Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Estigma revivido

Muito interessante o artigo de Felipe Costa sobre o uso do ‘bom senso’. Mais interessante ainda é o artigo que faz par com ele na seção, pois é um esplêndido exemplo documental das situações relatadas no artigo. O médico conclui que ainda existe uma fortíssima ligação entre a Sida e a homossexualidade. O problema foram as premissas:

* * Baseou-se num único estudo, conduzido numa população que claramente é um mero subconjunto da população em geral – universitários e homo/bissexuais;

* * O estudo não cita se havia outros homossexuais do grupo que não estivessem contaminados. Só traz estatísticas sobre os contaminados e o seu número absoluto. Será que não seria interessante questionar a porcentagem de indivíduos contaminados versus indivíduos sadios?

* * A pesquisa verificou se os doentes usavam drogas injetáveis, hoje um dos grandes vetores de propagação da Sida? Qual o percentual de viciados nessa pesquisa?

* * Por que o médico não citou nem um link para que o leitor pudesse verificar independentemente o relatório? Do jeito que está, e apesar de todos os voleios do autor, o artigo não parece mais do que uma mal-disfarçada tentativa de reviver um estigma que eu já pensava extinto: o do homossexual como principal propagador da Sida.

Mais interessante ainda: ao fim e ao cabo, o autor incorre em pelo menos três das ‘Falácias Lógicas de Stepehen Dawnes’:

* * Autoridade Escondida;

* * Generalização Precipitada;

* * Amostra Limitada

Para saber mais sobre essas armadilhas, veja (http://www.str.com.br/Scientia/falacias2.htm).

Paulo Afonso Graner Fessel

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Retorno ao obscurantismo

Os parlamentares brasileiros proibiram na Câmara dos Deputados a pesquisa com células-tronco na Lei de Biossegurança, cedendo o Planalto à barganha das bancadas evangélica e católica. Vai para o Senado, mas lá também as chances são mínimas de modificação. Os nossos deputados e governantes fazem suas barganhas ranhetas com a vida alheia: são terríveis as doenças cujas vítimas podem, com alto grau de certeza, se beneficiar das pesquisas com células-tronco: levam a sofrimentos indizíveis, acabam com a qualidade de vida de pacientes e suas famílias antes de levar à morte.

É obscurantismo, retorno às trevas, sadismo, ignorância, ganância e o fim do Estado laico, da separação entre igreja e Estado. Apesar de tudo, espero que nenhum desses senhores venha a ser ou ter um eleitor ou parente portador das moléstias que em breve poderão ser curadas. A esperança é a união da comunidade científica com pacientes e simpatizantes e o papel fundamental da imprensa. Fora isto, resta o caos: devolvamos o Brasil aos índios.

Celio Levyman, médico

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