Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Estilo de vida conta mais que herança genética

A revista Veja desta semana traz interessante matéria de capa intitulada ‘Genética não é destino’, assinada por Gabriela Carelli. Segundo a reportagem, ‘o tipo de alimentação, o nível de atividade física, o tabagismo, o uso de medicamentos, as experiências emocionais – todos esses fatores agem para `ligar´ ou `desligar´ determinados genes, ou seja, torná-los ativos ou conservá-los adormecidos. Nos dois casos, ocorrem alterações físicas e psicológicas em seu portador. Essas mudanças podem ser para o bem ou para o mal, atenuando sintomas de doenças ou provocando seu desenvolvimento. Os gatilhos que ativam ou desativam os genes são acionados por trechos do genoma que até pouco tempo atrás os cientistas tinham por inúteis – o chamado DNA lixo. Agora se sabe que eles servem de elemento de ligação entre os fatores ambientais e os genes. Esse ramo da genética que estuda a interação entre o ambiente e o genoma é conhecido como epigenética. O geneticista americano Randy Jirtle, da Universidade Duke, usa uma analogia para explicá-lo. Disse Jirtle a Veja: `Imagine o material genético existente no organismo como um computador. O genoma é o hardware. Para que a máquina funcione, é preciso ter softwares. Os mecanismos epigenéticos são os softwares. Eles produzem resultados distintos rodando sobre um mesmo hardware, ou seja, o genoma herdado dos pais´.’


No quadro ‘Abre-se a caixa preta da genética’ é dito que o ambiente é mais importante que os genes na constituição física e psíquica de uma pessoa. Curiosamente, isso já era dito pela escritora Ellen White há mais de cem anos. Seu livro National Geographic.


Leitores da Bíblia sabiam antes da ciência


Inicialmente, achava-se que o genoma sofria raríssimas alterações ao longo da vida. Hoje se sabe que ele sofre muitas modificações e que elas podem ser reversíveis, se forem epigenéticas. Além disso, essas alterações podem ser transmitidas aos descendentes. Veja menciona pesquisa comandada pelo geneticista Michael Skinner, da Universidade de Washington, em que ratos foram expostos a um tipo de inseticida. A substância causou a metilação de dois genes relacionados à produção de esperma e os animais passaram a produzi-lo em menor quantidade. A deficiência se perpetuou por quatro gerações (interessante que Êxodo 20:5 menciona Deus ‘visitando a iniqüidade’ dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração, numa alusão às conseqüências do pecado; mas abençoando até mil gerações daqueles que seguem Seus preceitos).


Atualmente, os cientistas já sabem que a falta ou excesso de comida na infância pode alterar os genes ligados ao metabolismo, provocando puberdade precoce, obesidade e diabetes. Sabem também que a vitamina B12 pode ligar os genes associados às funções cerebrais, como a memória, e que uma alimentação rica em soja, vitamina B2 e ácido fólico desliga o gene da obesidade. Além disso, uma dieta rica em vegetais diminui a expressão dos genes ligados ao câncer de próstata no estágio inicial da doença. Uma alimentação rica em ácido fólico, encontrado em grãos integrais, retarda o envelhecimento e inibe certos tipos de cânceres. E mais: a falta de carinho materno na infância altera os genes que controlam a produção dos hormônios do estresse. Essa alteração pode levar a transtornos como a depressão.


Mais uma vez é bom lembrar que os leitores da Bíblia (segundo a qual, em seu primeiro livro, a dieta original dada por Deus ao ser humano consistia de frutas e grãos) e dos livros da escritora Ellen White sabiam disso muito tempo antes de a ciência chegar a essas conclusões, numa clara evidência de que a ciência experimental e a revelação andam de mãos dadas.


A complexidade da vida


Finalmente, no quadro ‘Por que não temos cinco pernas’, Veja aponta uma das maravilhas relacionadas à reprodução: ‘Embora bastante investigados, os mecanismos que levam à concepção de um ser humano ainda guardam mistérios para a ciência. Durante os nove meses de gestação, o zigoto, célula única que resulta da fecundação do óvulo pelo espermatozóide, divide-se paulatinamente até se transformar nos 100 trilhões de células que formam os 220 tipos de tecido do corpo humano. O que ainda intriga os cientistas é como essa divisão se dá de modo tão organizado que o resultado é um bebê com dois olhos, dois ouvidos, dois braços, duas pernas – tudo sempre no mesmo lugar e distribuído de forma simétrica. O que impede que um zigoto produza aleatoriamente um ser com pés nos ombros e nariz no umbigo? Essa é uma das questões centrais da embriologia, ramo científico que estuda o desenvolvimento fetal.’


Uma das descobertas recentes relacionadas a esse assunto foi a do gene controlador homeobox, que age acionando outros genes e garantindo seu correto funcionamento, produzindo órgãos diferenciados a partir das células iniciais iguais. O texto diz que ‘esses genes mantiveram-se praticamente intactos durante a evolução’ e que ‘são eles que ensinam aos outros genes o caminho a seguir para dar continuidade às espécies e não deixam a receita da vida perder o caminho’.


Mas a pergunta é: como o homeobox surgiu? E até que isso acontecesse, não deveria ter ficado um rastro de anomalias no registro fóssil? Ao invés disso, o que se percebe é a simetria, de alto abaixo da coluna geológica…


Parabéns, Veja, por chamar nossa atenção, mais uma vez, para um dos temas mais fascinantes: a complexidade da vida.

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Jornalista, mantém um blog