Mais uma vez, o tão falado 11 de setembro volta a ser pauta nos diversos meios de comunicação. Do impresso à mídia digital. Só que, desta vez, com a desculpa de aniversário de 10 anos do atentado às torres gêmeas do World Trade Center (WTC). A grande mídia, elitizada, lança mão das reportagens – “novelísticas” – sustentadas sobre as lágrimas daqueles que perderam amigos ou parentes e enraizadas nas memórias daqueles que sobreviveram ao suposto ataque terrorista. As mesmas incansáveis cenas dos aviões colidindo com os edifícios já povoam televisão, internet e jornais. Se o rádio tivesse o poder da imagem, ali também estariam as torres em chamas e pessoas chorando. A palavra de ordem é dramatizar para comover.
O que estas atuais reportagens, dignas de um Oscar de melhor drama, não mencionam é a série de informações desencontradas, desmentidas e mentiras mal disfarçadas que até hoje envolvem o governo de George W. Bush, eleito de forma duvidosa sobre o candidato Al Gore, sem os votos dos 16 mil afro-americanos do Condado de Durval; os acontecimentos pós-atentado ao edifício do World Trade Center e a guerra do Afeganistão e Iraque. Não questionam a forma pela qual pessoas de origem saudita foram presas sem qualquer acusação. Bastava ter semelhança física árabe e já se ganhava um passaporte para a prisão. Pareceu-me mais como um caça às bruxas, como na peça teatral As Bruxas de Salém, de Arthur Miller, escrita em 1953, contrapondo ao macartismo, período no qual o governo norte-americano passou a perseguir pessoas acusadas de comunistas, protagonizadas pelo senador Joseph McCarthy.
Festa bombardeada
O que se percebeu, em 2001 e nos meses seguintes, foram imagens de luzes esverdeadas caindo sobre Bagdá. Jornalistas foram censurados, impedidos de acesso e confundidos. E, dez anos depois, ainda não se sabe o número exato de vítimas. Outro fato, talvez, esquecido pela imprensa e, no mínimo curioso, é a suposta morte de Osama bin Laden, que teve seu corpo sepultado no mar segundo tradições religiosas. Atitude suspeita, não? Caçado desde o dia seguinte ao atentado, Bin Laden seria como um troféu para os norte-americanos. Sabe-se que os Estados Unidos nunca respeitaram a religiosidade do povo muçulmano. Na ignorante guerra de retaliação, soldados norte-americanos destruíram mesquitas sob a alegação de que estes templos estariam servindo de abrigo para terroristas. Informação jamais confirmada. E, como em um passe de mágica, o comando militar dos EUA passa a compreender os rituais desta religião.
Daí por diante, as contradições explodem no ar como fogos de artifícios na noite de 4 de julho. Em 19 de abril de 2002, aviões norte-americanos bombardearam tropas canadenses. Quatro soldados morreram e oito ficaram feridos. Os canadenses estavam fazendo exercícios militares no solo quando foram atacados, confundidos com talibãs. Um mês depois, o mesmo exército anunciou que um bombardeio realizado no dia 18 de maio havia matado dez terroristas islâmicos. No entanto, segundo informações de uma agência de notícias afegã, o ataque aconteceu sobre um grupo que participava de uma festa de casamento. Obviamente, informação desmentida pelo governo de Bush.
Em 2 de julho, os soldados do Tio Sam protagonizaram outro equívoco. Aviões e helicópteros bombardearam outra festa de casamento. Desta vez, na vila de Kakarak, trezentos quilômetros a sudoeste de Cabul. Testemunhas disseram que pelo menos 120 pessoas morreram, a maioria mulheres e crianças. E, mais uma vez, as informações foram negadas pelo alto comando do exército americano.
Mera coincidência
Creio que o mais surpreendente de toda esta história, transformada em novela, é o fato de que o comando militar dos Estados Unidos, com medo de pisar em solo afegão, ofereceu incentivos às forças militares locais para que tomasse a dianteira e se empenhasse na tarefa de caçar Bin Laden nas cavernas das montanhas do Afeganistão. Os incentivos eram dinheiro, armas e roupas de inverno para que os afegãos lutassem em seu lugar. Que decepção, hein? E, olha que o cinema norte-americano sempre exalta seu exército “beatificando” seus bravos soldados, destemidos, capazes de combater qualquer tipo de inimigo. Desde terroristas em trens e aviões até alienígenas, além de salvar o planeta Terra, como se fosse um favor, do impacto com imensos asteroides.
Se no domingo, 11 de setembro, vamos acender velas e fazer um minuto de silêncio, ou até dois, em memória dos mortos nas torres gêmeas, creio que devemos lembrar também dos civis afegãos mortos na guerra de retaliação. Mulheres, crianças e pais de famílias mortos em nome de uma ideologia de olho por olho e dente por dente. O que difere entre as pessoas mortas no atentado e as pessoas mortas em solo afegão? Ah… sim, claro. As vítimas do WTC não tinham em suas testas o rótulo pejorativo, de origem ocidental e capitalista de: terroristas. As demais diferenças que pesaram na decisão de iniciar uma resposta militar foram, meramente, étnicos-religiosos. Nesta disputa pelo poder econômico mundial basta saber enxergar os santos e os profanos. Ah… já ia me esquecendo. Uma pesquisa revelou que o Afeganistão pode ter um campo com reservas de 1,8 bilhão de barris de petróleo no norte do país. Assim, qualquer relação do governo norte-americano e o petróleo saudita… é mera e a mais simples coincidência. Já até escrevi minha carta para o papai Noel.
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[Wellerson Cassimiro de Oliveira é técnico em enfermagem, músico e jornalista, Juiz de Fora, MG]