Saturday, 16 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Os planos para a TV Cultura

Belisário dos Santos Jr., 63, recém-eleito presidente do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta, quer marcar sua gestão pelo debate do papel da televisão pública e pelo aperfeiçoamento do mecanismo de liberação da verba do governo para a TV Cultura. Ex-secretário de Administração Penitenciária (1995) e militante dos direitos humanos, Belisário é advogado e faz parte do conselho há seis anos. Como deve continuar a defender clientes, renunciou ao salário de R$ 18 mil do cargo que assumiu na fundação.

Foi a primeira vez em mais de 40 anos que o conselho realizou uma disputa eleitoral. Belisário, que representa o grupo ligado a João Sayad, presidente executivo da TV Cultura, teve como oponente Jorge da Cunha Lima, que exerceu três mandatos como presidente-executivo da emissora e dois à frente do Conselho Curador. O conselho é composto por 47 membros e tem como atribuição supervisionar a qualidade da programação e a gestão administrativa do canal.

É o conselho que nomeia o presidente-executivo, cargo ocupado atualmente por João Sayad. Seu mandato vai até abril. Em junho, será escolhido o presidente da fundação. Na entrevista a seguir, Belisário expõe seus planos.

“Não corremos risco de estatização”

Qual será o foco da sua gestão?

Belisário dos Santos Jr. – A ideia é aperfeiçoar o mecanismo de liberação de verbas do governo para a TV Cultura, com a implementação de um contrato de gestão. Esse contrato garantiria um diálogo mais fluente com o Estado, que atualmente paga a metade do orçamento anual da emissora, cerca de R$ 70 milhões – o resto, a TV Cultura busca com receita publicitária, royalties etc.

No que consiste o contrato de gestão?

B.S.J. – Hoje, o Estado paga principalmente a manutenção da emissora. Mas a TV não vive só disso, não se sustenta com a massa de recursos atual. O que se quer é mais investimento. E o Estado não repassa porque não sabe como vai ser utilizado. Com o contrato, você garante o que está previsto em lei [9849/1967, que determina a obrigação do governo em manter a TV] e ainda pode contemplar metas.

Para Cunha Lima, o contrato pode representar a perda de autonomia administrativa da instituição. O que o sr. acha?

B.S.J. – Não corremos risco de estatização. Esta é uma medida leve, para otimizar o tempo. Boa parte da energia da direção é gasta negociando a condição de vida da instituição com o Estado, mês a mês. E eu já estive do outro lado. No governo, a TV muitas vezes é vista mais como problema do que como investimento.

“Prefiro jornalísticos, debates e futebol”

A média de audiência está em cerca de um ponto no ibope, ou 60 mil domicílios na Grande São Paulo. Qual é a meta?

B.S.J. – Ninguém faz TV de qualidade para não ser visto. O importante é buscar o equilíbrio entre audiência, qualidade e diversidade. Precisamos debater que rádio e televisão queremos no cenário de hoje, com a concorrência da TV a cabo e da internet. Por isso realizaremos um seminário.

Desde 2010, houve 665 demissões. Em que medida a Cultura está terceirizando a produção?

B.S.J. – A produção própria de conteúdo é um tema sensível para a TV pública e, mesmo após as recentes demissões, a informação que tenho é que o patamar anterior foi mantido, com uma leve queda.

Já assistiu ao TV Folha? O que achou?

B.S.J. – Só vi uma vez, me pareceu um modelo inteligente, mas não muito definido. É algo que está sendo trabalhado, em elaboração – isso fica até óbvio. Um programa jornalístico, para ser exibido no horário nobre de domingo [na emissora], tem que ser inovador. Tudo pode melhorar ali.

O que gosta de ver na TV?

B.S.J. – Assisto principalmente à Cultura. Mas só à noite, após chegar em casa. Prefiro jornalísticos, debates e futebol. Novelas, só acompanhei duas: O Bem-Amado (1973) e Pecado Capital (1975).

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[Valentim Rodrigues e Morris Kachani, da Folha de S.Paulo]