Friday, 15 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Um autodidata na música erudita

Quem o ouvia dissertar sobre música com tamanha paixão e propriedade não podia imaginar que ele era autodidata no tema. Assim como os que o viam transitar com tal naturalidade por entre a elite na Sala São Paulo não suspeitavam que ele militara na Ala Vermelha do PC do B, nos “anos de chumbo” da ditadura militar. Brilhante, polêmico e carismático, J. Jota de Moraes morreu de insuficiência respiratória no Hospital Bandeirantes, em São Paulo, na madrugada de terça para quarta-feira (13/6) e pode, sem exagero, ser considerado o mais importante crítico de música erudita da cidade nas últimas quatro décadas. Tinha 68 anos.

Formado em Letras Neolatinas, Jota ficou marcado pela atuação no Jornal da Tarde entre 1972 e 2003. Fez programas nas rádios Eldorado e Cultura, escreveu em O Estado de S.Paulo e diversas revistas. Tinha ainda uma relação especial com a Sociedade de Cultura Artística, da qual foi diretor entre 1992 e 2000 e para cujos concertos escrevia regularmente notas de programa. Na década de 1980, formou uma talentosa geração de musicistas como professor de História da Música na ECA-USP. A partir do final dos anos 1990, vinha compartilhando seu saber com alunos “leigos” em cursos livres de música, ministrados em sua residência.

Com um pouco de sorte, é possível achar em sebos seus dois livros, publicados pela Editora Brasiliense, nos anos 1980: O que é música e Música da Modernidade.

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[Irineu Franco Perpetuo, colaboração para a Folha de S.Paulo]