O jornalista sírio Ghatan Sleiba, âncora e repórter do canal de TV pró-regime al-Dunya, deixou o país na semana passada depois de revelar que nos últimos sete meses forneceu, secretamente, informações de inteligência a grupos rebeldes.
Acredita-se que ele seja o primeiro desertor de destaque do poderoso braço de propaganda do governo de Bashar al-Assad. “Sou o primeiro e provavelmente serei o último”, afirmou em entrevista ao jornal britânico Guardian. “Há alguns outros que também querem fugir, mas há muitos mais que amam o regime do fundo do coração”. Sleiba, que tem 33 anos, chegou à Turquia na semana passada depois de uma longa jornada desde Hassaka – onde era era responsável pela cobertura do leste da Síria. Agora, ele está sob os cuidados de grupos rebeldes.
Segundo o jornalista, grupos de oposição estão quase tomando o controle de grande parte do leste, principalmente da área rural em torno das grandes cidades. “Isso era uma das coisas que eles nunca queriam que nós falássemos. O que fazíamos não era jornalismo. Era simplesmente agir como porta-vozes do regime. Eu fiquei o quanto consegui para ajudar os revolucionários, mas não pude mais”, afirmou.
A al-Dunya tem como um dos donos Rami Makhlouf, primo de Assad. A emissora passa a mensagem de que o levante da oposição é na verdade um plano do Ocidente e de poderes árabes sunitas para, usando insurgentes ligados à al-Qaeda, derrubar o governo sírio. Sleiba contou que, antes das entrevistas que fazia, informava aos entrevistados as respostas que eles deveriam dar.
De jornalista a informante
A rebelião contra o regime de Assad teve início em março do ano passado, e já teria deixado mais de 16 mil mortos, de acordo com informações do Observatório Sírio de Direitos Humanos. O jornalista diz que começou a ter dúvidas sobre a versão oficial dos eventos dois meses depois do início dos confrontos. “Muitos de nós sabíamos que eles [as autoridades] não estavam lutando contra terroristas, e sim contra pessoas que reivindicavam seus direitos. Mas era muito difícil fazer algo a respeito. Nós temos famílias e precisamos protegê-las”.
Em novembro, Sleiba fez contato com o grupo de oposição militar Exército Livre da Síria, e informou que gostaria de desertar. “Eles me disseram que eu seria mais útil ficando no meu trabalho”, diz. A partir daí, o jornalista passava aos dissidentes, via Skype, informações sobre movimentações políticas e militares.
O jornalista diz que agora procura um emprego em algum canal de oposição, mas sabe que será difícil. “Quando cheguei aqui, encontrei com um cara da al-Jazira, e ele disse que eu sou um espião do governo com um problema psicológico. Mas as pessoas em breve vão entender que a verdade é algo poderoso e que é por isso que estou aqui”. Informações de Martin Chulov, da Turquia [Guardian.co.uk, 2/7/12].