Saturday, 16 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Cresce preocupação com privacidade

Cláudio foi à padaria comprar guloseimas, como de costume, e decidiu preencher um cadastro para receber descontos – um gesto pouco costumeiro de sua parte. Uma semana depois veio a surpresa: ele começou a receber uma enxurrada de ofertas (por e-mail, correio e telefone) de empresas das quais não era cliente. Cláudio já havia escutado que muitas lojas vendem o cadastro de seus clientes para outras companhias e imaginou que a causa do problema era o cadastro de descontos. Desde então, passou a comprar em outra padaria.

O exemplo hipotético ilustra uma experiência comum na internet e que pode colocar em xeque o desempenho de longo prazo de companhias que dependem de uma grande audiência e de consumidores fiéis para se manterem no disputado mercado da web. Um estudo feito pela consultoria StrategyOne para a rede de agências de relações públicas Edelman em sete países, incluindo o Brasil, revelou que os internautas estão mais preocupados com a segurança e a privacidade. E estão muito dispostos a mudar de site, se deixarem de confiar na companhia.

O estudo foi realizado com 4.050 internautas dos Estados Unidos, da Alemanha, do Brasil, da Coreia do Sul, da China, da Índia e do Reino Unido e será divulgado internacionalmente nesta semana. Entre os principais resultados, a pesquisa mostra que 38,2% dos consumidores no mundo avaliam a privacidade e a segurança de um site na hora de adquirir produtos. No Brasil, o índice é 60,2%.

Políticas mais claras e rígidas

Entre os entrevistados em geral, 43% consideram que os dados publicados na internet atualmente estão menos seguros do que há cinco anos e 21% recusam-se a preencher cadastros para cartões de lojas devido à preocupação sobre o destino desses dados. No Brasil, 53% dos entrevistados consideram que houve piora na segurança da internet e 27% evitam os cadastros online. Do total de internautas ouvidos no mundo, 60% disseram estar dispostos a trocar de site se a privacidade dos seus dados for violada. No Brasil, o índice foi de 58%. A disposição do brasileiro em trocar de empresa na internet é maior nos setores bancário (80,6%), de cartões de crédito (80,4%), de serviços de pagamento online (80,8%) e de varejo online (80,2%).

Pete Pedersen, vice-presidente mundial de práticas de tecnologia da Edelman, afirmou que o crescimento expressivo de internautas e de vendas pela internet foi acompanhado pelo aumento dos riscos relacionados à privacidade e à segurança. “No passado, muitas companhias relegavam aos consumidores a responsabilidade de garantir a segurança das operações na internet. Mas o cenário mudou e as companhias precisam reavaliar suas estratégias na web”, disse.

Pedersen também considerou que devido ao fato de a expansão da internet ser um fenômeno relativamente recente no Brasil, as preocupações com segurança são maiores que a média global. Observou também que as discussões sobre privacidade – antes restritas a redes sociais e sites de buscas, que têm um longo histórico de processos por divulgar conteúdos sem a autorização – estenderam-se para outros sites. Tendo em vista que grupos como Google, Microsoft e Facebook mudaram suas políticas de privacidade, os internautas esperam que outras empresas online desenvolvam políticas mais claras e rígidas, afirmou Pedersen.

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[Cibelle Bouças, do Valor Econômico]