Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

A luta dos EUA por mais informações

Dezessete meses depois do início do levante na Síria, os Estados Unidos lutam para ter uma clara compreensão das forças da oposição que atuam no país, afirmam funcionários americanos, segundo os quais o déficit de informações frustra os esforços para apoiar a expulsão do presidente Bashar al Assad. Nos últimos meses, as agências de espionagem americanas intensificaram as iniciativas para obter informações sobre as forças rebeldes e o regime Assad, mas ainda se limitam em grande parte a monitorar as comunicações interceptadas e a observar o conflito de longe, disseram as fontes.

Entrevistas com representantes da inteligência americana e estrangeira revelaram que a CIA não conseguiu estabelecer sua presença na Síria, contrariamente à função fundamental da agência, que consistiu em obter informações no Egito e na Líbia durante as revoltas nesses países. Sem agentes na Síria, e com poucos deles posicionados em pontos-chave nas fronteiras, a CIA depende consideravelmente de agências da Jordânia, da Turquia e de outros aliados regionais.

A falta de informações prejudicou a capacidade do governo Obama de tomar decisões numa crise que representa uma oportunidade de eliminar um adversário dos EUA, mas traz o risco de fortalecer grupos insurgentes que simpatizam com a Al-Qaida ou com o Islã militante.

Comunicação em código

O governo americano explora atualmente algumas formas de ampliar seu apoio sem fornecer armas letais, disseram os funcionários. A falta de uma visão clara também contribui para aumentar a ansiedade entre os aliados dos EUA na região, preocupados com quem controlará a Síria se Assad cair. Mesmo para os serviços de inteligência árabes ansiosos por ajudar os rebeldes a derrubar Assad, “o processo de verificação encontra-se nos primeiros estágios”, segundo um funcionário da inteligência especialista em Oriente Médio. Ele falou da preocupação com a possibilidade de que a oposição esteja correndo o risco de ser dominada pelos radicais islâmicos que pressionariam para a formação de um governo da Irmandade Muçulmana após Assad.

A possibilidade de a CIA operar na Síria foi gravemente prejudicada pela decisão de fechar a embaixada americana em Damasco em fevereiro, ele afirmou. Ao contrário da Líbia, onde os rebeldes tomaram rapidamente o controle da metade oriental do país, os grupos de oposição na Síria não conseguiram controlar uma parte do território que eles pudessem usar como base para as equipes da CIA.

Apesar das limitações, Obama deu à agência autoridade para fornecer ajuda às forças contrárias a Assad por meio de uma série de operações. A CIA forneceu aos grupos da oposição equipamentos que lhes permitem comunicar-se em código, o que supostamente permitirá aos EUA monitorar suas conversações. Uma pequena equipe de seis funcionários da CIA estabelecida ao longo da fronteira da Síria com a Turquia vem atuando para controlar os líderes da oposição e coordenar o fluxo de equipamentos e material médico.

Fluxo de armas

O grupo compartilha informações com países como a Arábia Saudita e o Catar, que fornecem armas aos rebeldes. Governos como o da Jordânia e o dos Emirados Árabes Unidos estão dispostos a enviar dinheiro, mas não munições, temendo que esse poder de fogo acabe se voltando contra governos árabes moderados ou mesmo Israel – e possivelmente seja usado contra as minorias étnicas e religiosas sírias, acrescentaram funcionários americanos e árabes. Esses temores contribuem para explicar o motivo pelo qual os grupos de oposição continuam com pouco armamento apesar do apoio dos EUA e de alguns dos regimes mais poderosos da região.

Apesar das críticas dos republicanos, Washington reluta em se envolver ainda mais em outro conflito no Oriente Médio. Uma das razões é a atual confusão a respeito da composição dos grupos contrários a Assad. “Os EUA têm uma história bastante complicada a respeito de grupos de oposição – atualmente estamos lutando contra um deles”, afirmou um representante do governo, referindo-se à decisão da década de 80 de armar milícias no Afeganistão que posteriormente se transformaram na Al-Qaida. “De fato, ao tomar uma decisão dessa gravidade é preciso pensar muito no segundo ou terceiro efeito secundário”, disse o funcionário, acrescentando que na Síria “pode haver inúmeros elementos radicais”.

Enquanto procura outras formas de minar Assad, a CIA e outras agências de espionagem ampliaram seus esforços para interromper o fluxo de armas que o Irã envia ao regime.

***

[Greg Miller e Joby Warrick são jornalistas do Washington Post]