O Twitter anda em baixa no Brasil. A rede social estagnou e perdeu audiência no país exatamente no momento em que ele fortalece sua expansão internacional com planos, inclusive de abrir um escritório em São Paulo. Dados divulgados pela consultoria ComScore na semana passada mostram que o Twitter perdeu 24% da audiência no Brasil em 12 meses. Isto significa que a rede – que foi sucesso no Brasil antes do Facebook se popularizar – hoje tem 3,7 milhões de acessos a menos. Em julho de 2011, a audiência total do site foi de 12,9 milhões de acessos únicos. Um ano depois, o número ficou em 9,7 milhões.
O Brasil é um pioneiro em redes sociais. O Twitter, criado em 2006, demorou mais tempo para se popularizar, mas com adoção de empresas de comunicação, políticos e famosos, ele pegou e continua a ter influência. Depois do Orkut, o Facebook se tornou a maior rede social do país no ano passado. Foi o momento em que o Twitter começou a cair. “O Twitter não está perdendo importância e nem está havendo diminuição no uso de redes sociais. O que está ocorrendo é uma reacomodação em consequência da expansão do Facebook no Brasil”, diz José Calazans, analista do Ibope Nielsen Online. “Até o ano passado, o Twitter tinha um grande volume de mensagens que eram brincadeiras, memes e outras postagens com o objetivo de gerar reconhecimento entre os amigos. Com o crescimento do Facebook, essas brincadeiras começaram a deixar o Twitter.” Segundo Calazans, não há indícios de que a queda na audiência ocorra em outros países, o que reforça a tese de reacomodação.
Em comparação com os EUA, fica clara a diferença. Lá, houve um crescimento de 22%, passando de 32,7 milhões de acessos em 2011 para 40,2 milhões em 2012, também de acordo com a ComScore. E na terra natal do Twitter, as previsões são otimistas. A empresa de pesquisa eMarketer estima que a quantidade de usuários ativos chegará a 28 milhões em 2013; em 2010 eram 16 milhões. E a taxa de uso diário também cresce: 8% dos usuários de internet no país estão no Twitter. Há um ano, eram 4%.
Uma pesquisa da consultoria Semiocast coloca o Brasil como segundo país com maior número de contas no Twitter. Elas somavam 40 milhões em julho (de um total de 517 milhões analisadas), mas a participação não é alta. Desses usuários, 40% têm apenas de um a cinco seguidores, o que mostra que os brasileiros não estão falando para audiências muito amplas, se é que estão falando coisa alguma – muitas contas estão abandonadas. Os dados têm mostrado que o Twitter está perdendo espaço com o avanço de rivais como o Facebook e outras redes de foco mais específico, como Pinterest e Tumblr. A questão é saber se ele terá o mesmo destino do Orkut, que deixou de ser a ferramenta social preferida.
Preciso de um amigo
Procurado pelo Link, o Twitter não respondeu aos pedidos de entrevistas. Mas outros especialistas concordam com a tese da migração. “A principal explicação para essa queda é o crescimento do Facebook”, diz Rafael Venturelli, coordenador de inteligência e performance da agência Remix, especializada em internet e redes sociais. Para ele, os brasileiros são levados ao site de Mark Zuckerberg pelo fato de ser uma rede com características pessoais: a possibilidade de ser amigo, montar álbuns, bater papo. “As pessoas se sentem mais a vontade em criar o seu cantinho e viver em comunidade com seus iguais”, afirma.
Bia Granja, curadora do festival de cultura digital YouPix, concorda. “Acho que a queda se deve ao fato de o Twitter não ser uma rede focada em relacionamento”, diz. Perceber as reações dos seguidores é difícil. A única certeza de que alguém leu algo que o usuário publicou é um retweet ou um comentário. Um “curtir” no Facebook é mais fácil. Para Venturelli, outra barreira para os brasileiros pode ser a frieza do microblog: “O Twitter é uma zona. É uma rede mais impessoal e veloz. Lá você não precisa pedir autorização, pode falar com qualquer um, a qualquer momento, e tudo é muito rápido.”
O Brasil, porém, ainda é muito ativo. O projeto A World of Tweets, que calcula a origem das mensagens, atesta isso. O Brasil é o segundo país que mais twittou desde o início da medição, em 2010. Temos 23% dos tweets mundiais, e os EUA, 27%. O adversário mais próximo é a Indonésia, com 11%. “Os acessos podem ter caído, mas a produção continua em alta”, diz Bia Granja.
Desembarque
O Twitter está longe de agir como uma empresa prestes a “subir no telhado”. Em agosto, anunciou que vai melhorar a ferramenta para anunciantes. Será mais fácil direcionar tweets promovidos a um público específico. O eMarketer estima que o faturamento passe dos atuais US$ 260 milhões anuais para US$ 540 milhões em 2014.
O Brasil está nos planos. Há seis vagas de emprego abertas para o futuro escritório que o Twitter deve inaugurar no Brasil, de olho na Copa do Mundo de 2014 e na Olimpíada de 2016.
E se os números podem decepcionar, eles também alimentam as esperanças do Twitter. Na onda da transição da web para o celular, o passarinho vai junto. Em um universo em que um quarto dos 4 bilhões de celulares do mundo são smartphones, o potencial para o crescimento ainda é grande. Metade dos usuários acessa a rede pelo telefone. Nos EUA, 9% de todas as pessoas que têm celulares usam o Twitter, segundo o instituto Pew Internet Research.
Talvez os tweets nunca fiquem tão populares como as possibilidades que o Facebook oferece aos brasileiros. Mas sua vocação de rede de rápida disseminação de informações parece ter seu lugar. “Basta a novela entrar no ar, alguma notícia bombástica acontecer, que todos vão lá contribuir com seus 140 caracteres de opinião”, diz Rafael Venturelli.
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[Filipe Serrano e Diogo Antonio Rodriguez, do suplemento “Link” do Estado de S.Paulo]