Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Os peitinhos da princesa e o futuro do jornalismo

Kate Middleton tem uns peitinhos pequenos, clarinhos, simpáticos. Sem grande personalidade. Não impressionam pela aerodinâmica, volume, coloração ou empinância. Kate é uma inglesa jovem, magrinha e atlética. Suas mamicas não causariam sensação numa praia qualquer da França, onde o topless é praticamente norma, tanto de mocinhas como de velhinhas.

Na Europa, é difícil praia onde não se vê uns peitos de fora, e em algumas os mamilos expostos preponderam. A gente acostuma. Depois de uns 15 minutos, o brasileiro mais tarado já esqueceu do topless, e está reparando mais é nas partes de baixo, enormes, tampando o traseiro todo. Cadê aquelas bundinhas bronzeadas e torneadas a la carioca? Fora o choque de ver os peitões caídos e cheios de veias das vovós.

Como Kate resolveu casar com o herdeiro do trono da Inglaterra, não faz como boa parte das moças da sua idade. Não faz topless na praia. Mas de férias no sul da França, em companhia do marido, tirou a parte de cima pra curtir o sol e a piscina. William nem tchuns. Imagino que aprecie ver a esposa pelada, mas não é exatamente novidade.

Um fotógrafo capturou as imagens à distância. Tentou vender para os jornais ingleses. Se recusaram. Sabiam que vinha bala. Vendeu para uma revistinha francesa. Processo à vista. Vão perder uma fortuna. Kate é figura pública, mas estava em espaço privado. Não tem volta: as fotos caíram na internet. Também não tem importância: amanhã teremos esquecido. Mas a história tem outras implicações. Vai lá ver, depois volta.

Ninguém está a salvo

A revista colocou umas legendas bem temperadas. Tenta elevar a temperatura do conteúdo. Veja as fotos sensuais do príncipe William e Kate! Veja a futura rainha da Inglaterra, como ela nunca mais será vista! Bem, o casal aparece sozinho na piscina. Podiam ter dado uns amassos, ou quem sabe algo mais, por que não? Férias é pra essas coisas… Mas as fotos são totalmente casalzinho, William besuntando a mulher de filtro solar, os dois papeando, erotismo zero.

Comentando o caso, o colunista do jornal britânico Telegraph, Willard Foxton, levanta o principal ponto do caso. Essa não será a última vez que veremos as peitolas de Kate, ou as escapadas de Harry, ou outros famosos e poderosos aparecendo como não queriam. Porque todo celular é uma câmera faz tempo.

Agora eles são ótimas câmeras, com capacidade de zoom, de controlar a luz e de focar, que antigamente só fotógrafos profissionais tinham à disposição. Ontem mesmo [quinta, 13/9], a Apple mostrou ao mundo o novo iPhone, que vem com uma câmera de oito megapixels. Tem mais, diz o colunista. Tem drones. Sabe o que é? Aviõezinhos de controle remoto, contendo câmeras. Drone Journalism: a utilização de drones para captação de fotos, vídeos, dados.

Foxton cita o Team Blacksheep, uma equipe de hobbistas americanos, que criaram seus próprios drones em garagens. E o caso do vídeo feito na Polônia por um drone, registrando um quebra-quebra. Olha o bicho pegando em Varsóvia.

A conclusão dele: daqui para a frente, ninguém está a salvo de ter sua vida registrada, exposta e comercializada. A minha: não há legislação que segure a onda. O texto completo está aqui.

Drones dão poder

Eu vinha procurando uma chance de tocar nesse assunto, e chegou. Drone Journalism vem sendo saudado como o futuro do jornalismo por publicações como Wired e Fast Company. O assunto já tem um ano, pelo menos. Já existem ONGs dedicadas ao jornalismo drone. Um centro de drone journalism na Universidade de Nebraska recebeu um prêmio da Knight Foundation, instituição americana dedicada à inovação no jornalismo. Tá pegando.

Drone Journalism tem uma série de vantagens. Dá para cobrir esportes, shows e tal. Mas também desastres naturais, revoluções, abusos policiais, e muitas outras coisas. Um drone baratinho custa 6 mil dólares, os mais sofisticados dez vezes mais. Os preços estão caindo. Em Moscou, protestos na última eleição de Putin foram registrados por um drone.

Os cumpinchas do presidente tentaram abater o helicopterozinho a bala, mas não conseguiram. As fotos são incríveis. Dão um peso enorme ao protesto. Drones são ótimos porque permitem a gente comum cobrir o que as grandes empresas de comunicação muitas vezes preferem ignorar, ou manipular. Veja as fotos de Moscou e comprove.

Há questões de legislação. Países diferentes têm regras diferentes sobre a utilização de drones, ou nenhuma. Nos EUA, o FAA, órgão público que regulamenta a aviação, tem até 2015 para propor novas regras para seu uso. É certo que os drones serão liberados. Eles têm muitas utilizações potenciais, e não só no jornalismo. Podem ser combinados com GPS. Podem ter algum nível de inteligência artificial.

Podem revolucionar a meteorologia, o controle de tráfego, a guerra, a segurança. Também podem servir para a manutenção de um estado policial, ou para desintegrar nossos conceitos de privacidade. Quer comprar um drone? Esses Robokopters parecem bem legais. Veja aqui.

Os drones vão longe. Até onde? Não faço ideia. Sei que as Kates e todos os famosos e importantes terão que se acostumar com o fato de que não terão mais vida privada. E sei que os drones são poderosos demais para ficar na mão dos poderosos. Os abusos virão. Mas abusos também há na imprensa e na internet, como provam os peitinhos da princesa. E como a imprensa e a internet, os drones dão poder a nós, os plebeus.

Viva a revolução!

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[André Forastieri é jornalista]