Muito se discute a respeito do futuro dos jornais. Vez por outra, a discussão desce de nível e os velhos jornalistas se levantam. Geralmente, os dinossauros da palavra impressa batem sem dó na geração-monitor-LCD. Essa geração que não está nem aí para os jornais porque nem sabe da existência deles. Os sobreviventes do século 20 sabem o peso de um jornal impresso. Todo domingo faziam o percurso casa-esquina-padaria-banca. Ao chegarem à banca, tiravam a carteira do bolso, atrapalhando-se para equilibrar, em apenas dois braços, os pãezinhos ferventes, o saquinho de leite das crianças e o pacote de jornais de domingo. Jornais da cidade e da capital.
No jornal da cidade, via-se a seção de “quem morreu” e o horóscopo. Dependendo da demanda econômica familiar do momento, a seção de empregos. Do jornal da capital, via-se o caderno de cultura. E dava-se uma escapada para as notícias de televisão, principalmente das novelas, senão faltaria assunto pra conversar com a mulher durante a semana, após a janta.
Previsão do tempo
O século 21 impôs sua presença, a internet mudou hábitos seculares e os sobreviventes do período anterior envelheceram em questão de segundos com as novas tecnologias. Os jornais continuam aí, em cores, como a TV, fazendo um papelão em termos de dinamismo. Perdendo feio para a instantaneidade da internet. Com o novo panorama, irão embora cenas como a que protagonizei nesta data de macarrão e Silvio Santos. Fui à garagem buscar o calhamaço impresso de todo santo domingo e encontrei tudo espalhado: folhas e mais folhas, em todos os cantos possíveis. Houvesse uma árvore ali e as folhas espalhadas dariam um toque de poesia ao inverno doméstico. O problema é que as folhas eram de jornal. Se não as retirasse do chão, os felinos da casa iriam deitar e rolar naquilo.
Imbuído de uma paciência budista, típica dos domingos ensolarados, fui recolher os jornais. Com o cuidado de agrupá-los em seus respectivos cadernos. A um passo do término da missão, um imprevisto mais que previsível aconteceu: uma nova lufada de vento espalhou os papéis de novo, quintal afora.
Após a ação matinal da natureza sobre os jornais, o suspiro emitido pelo budista de ocasião deve ter superado qualquer tsunami. Derrotado, entrei na internet para conferir a previsão do tempo.
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[Érico San Juan é cartunista, radialista, designer gráfico e caricaturista]