Nunca li o anúncio de uma vaga para o cargo de apresentadora de programa infantil. Mas suspeito que, em algum momento, as aspirantes a esse tipo de oportunidade tenham tido conhecimento de que para conquistar tal emprego fosse indispensável ter, como pré-requisito, participações em reality shows e ensaios fotográficos nus para revistas masculinas. Uma experiência em cada um desses pontos de atuação, não mais. Digo isso porque não é a primeira vez que uma moça com atribuições como essas se arrisca a dizer na mídia – como se fosse a coisa mais natural do mundo – que deseja ingressar no ramo televisivo, mais especificamente para protagonizar programas de entretenimento aos pequenos.
Foi mais ou menos assim com Mara Maravilha, com Xuxa e com Carla Perez, embora não houvesse reality shows na época delas. A ex-BBB Francine Piaia e Geisy Arruda também já demonstraram interesse no segmento e a candidata da vez atende pelo nome de Nicole Bahls. Em recente entrevista à imprensa, logo após deixar o confinamento de A Fazenda, a modelo – que já tem um quadro no Programa da Tarde, da Record, com Théo Becker – disparou que gostaria de seguir na carreira artística apresentando um programa infantil. Disse que sempre teve jeito com crianças, daí a vocação.
Minutinhos de fama
Pode parecer puritanismo, mas soa esquisito que quem tenha como profissão mexer com o imaginário masculino, ganhando a vida com métodos que de inocentes não têm nada, mude de rumo assim, tão drasticamente. Está certo que se as chances de comandar programas infantis fossem restritas apenas a pessoas castas, ligadas à moral e aos bons costumes, seria difícil encontrar quem preenchesse os pré-requisitos. Mas, convenhamos, nessa matemática não caem bem nem o oito nem o oitenta. Só parece ter lógica se a intenção for ganhar pontos no ibope através de pais que estarão mais atentos aos predicados da apresentadora que à qualidade do programa em si. Ou se a intenção for acelerar o processo de sexualização precoce, assunto que sempre dá nó na cabeça de pais – os responsáveis de verdade – e educadores.
Agora é aguardar para ver se Nicole colherá maduros os verdes que jogou para ganhar seus minutinhos de fama como formadora de opinião, caráter e comportamento dos telespectadores mirins do Brasil.
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[Taís Helena Soares Brem, é jornalista, Pelotas, RS]