Foi uma honra e um privilégio ter sido contemporâneo de jornalistas como Aloysio Biondi e Joelmir Betting, que morreu no dia 29/11, em São Paulo, aos 75 anos. A notícia deve ter causado forte abalo a todos que, além de admirá-lo, tinham por ele uma grande estima pessoal. Como Aloysio, Joelmir abriu uma nova senda no jornalismo brasileiro: escrever de forma clara e inteligível sobre temas econômicos.
Enquanto a maioria ainda recorria a códigos, jargões e linguagem viciada como forma de exclusivismo e de suspeita autoconsideração, eles não só traduziam o economiquês como, através de paralelos e contextos, além de exemplificações ao alcance de todos, porque extraídos do cotidiano, traziam a ciência elitista para a realidade do comum dos mortais.
Depois de ter desbastado os parasitas da inteligibilidade em sua coluna de jornal, Joelmir levou essa autêntica revolução para a televisão. Valeu-se de sua boa dicção, didática e marcante, como a de Paulo Francis, só que destituída de teatralidade. O coloquialismo na fala era o mesmo da escrita.
Não era diluição aquosa. Joelmir foi um dos pioneiros na busca pelo conhecimento sistematizado na academia. Tinha base científica, valorizada por jamais ter perdido a preocupação jornalística pela compreensão do leitor.
Aloysio Biondi fez época ao agregar ao noticiário do dia as ramificações dos fatos com os seus antecedentes e consequências, o que fez com maestria em jornais menores, como o Diário Comércio e Indústria, depois de ter deixado sua marca em Opinião, com Marcos Gomes e Ricardo Bueno. Foi uma era de competência, criatividade, compromisso com o ofício e bom humor. Era que Joemir Betting expressou por inteiro.
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[Lúcio Flávio Pinto é jornalista, editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)]