“‘Não são os redatores que fazem o jornal, mas os assinantes’. Gay de Girardin
O título acima, homônimo de um famoso seriado de televisão das décadas 1960/70, foi usado por mim já algumas vezes nos comentários internos das edições do dia. Em todas elas, usei a expressão para dar nome a notas da coluna diária chamando a atenção da Redação para uma importante omissão, quase rotina no O POVO: a falta de referência espacial daquilo que o jornal publica. Impressiona como estamos mandando às rotativas notícias soltas, no que diz respeito à localização. Há casos para todos os gostos e tamanhos. Do equipamento público ou privado de Fortaleza, alvo de uma denúncia ou local de um crime, a cidades e países, dos menos conhecidos aos mais badalados. Quando isso acontece, o leitor, obviamente, não recebe a informação por completo. À primeira vista, a cobrança pode parecer algo de menor monta. Mas não cercar, geograficamente, o local do fato que se transformou em notícia é meio caminho andado para deformar ou distorcer a informação.
Boate, agressão e carnaval
Os casos de falta de referência espacial saltam aos montes no O POVO. Todos os dias. São vários maus exemplos em uma única edição, que somados ao longo de uma semana se transformam em dezenas. São centenas por mês. Milhares por ano. Para citar os mais emblemáticos dos últimos dias, lembrarei apenas três fortes coberturas da semana: as boates e casa de show vistoriadas pelo Corpo de Bombeiros e Prefeitura de Fortaleza, o caso dos dois jovens agredidos em uma escola na periferia e municípios do Ceará inseridos no noticiário do Carnaval. Quem nunca passou em frente nem frequenta, não saberá para que lado da Cidade fica o estabelecimento interditado por falta de segurança; o mesmo vale para o leitor de outras áreas da Cidade em relação ao bairro onde os garotos foram espancados. E quem é pouco habituado a circular pelo Interior do Estado terá dificuldades em se situar em relação a pequenas cidades.
Cobrar é preciso
É justo registrar que os problemas são casos no meio de bons exemplos que o jornal também tem. Há muitos conteúdos completos e bem apresentados, sob todos os aspectos. É importante destacar também que as cobranças do ombudsman surtiram efeito positivo, bastante perceptível, nessas três áreas de cobertura citadas acima. Embora com resistências muito pontuais, por motivos vários, a Redação compreende que é dever do jornal entregar ao leitor a informação mais precisa e didática possível. Continuarei cobrando.
Quando o jornal perde a utilidade
De qualquer forma, o problema existe. E é mais gritante quando a localização espacial tem relevância direta para o objeto da notícia. Ilustrando: como o motorista vai saber em que região ou bairro de Fortaleza fica a rua esburacada ou mal iluminada cuja foto aparece no jornal? Ou como ele deve proceder em caso de interdição de logradouros para obras ou reparos em vias urbanas? Atenção: se esse leitor precisar lançar mão de outras fontes de informação, como a Internet, para ficar sabendo dessas duas informações básicas acima, lamento informar mas, nesses casos específicos, o jornal perdeu a utilidade para ele.
Voltando às raízes
Há três semanas, levantei aqui o debate sobre os motivos que levariam os jornais – de maneira geral e O POVO em particular – a errarem tanto. Quem perdeu as colunas, clique nestes links: http://bit.ly/Vgo16B, http://bit.ly/YKM23b. Na listinha que fiz estão explicações como a extinção da função de revisor das redações, negligência do repórter, inexperiência e má formação profissional. Há outros fatores, que abordaremos nas colunas seguintes. Pinço esses quatro pontos da lista porque, separados ou conjugados, estão na raiz da explicação para que publiquemos textos faltando um pedaço da informação, como detalhado acima. Às vezes, o pedaço mais importante.
Bom Carnaval, até domingo.
FOMOS BEM
DENÚNCIA DE CORRUPÇÃO NO DETRAN
Com R$ 800, motoristas conseguiam zerar os pontos na Carteira Nacional de Habilitação
FOMOS MAL
QUEDA FINANCEIRA DA PETROBRAS
Não conseguimos didatizar os motivos nem as repercussões da crise”