“‘Jornalismo é como se fosse um fio, que liga as pessoas ao mundo’ (Calebe Lamonier)
Desde quando assumi o mandato, não lembro ter ficado tão ansioso para ler os jornais quanto na volta do feriadão de Carnaval. Caseiro que estou e folião meia-boca de quase sempre, fui um dos milhões que receberam no aconchego do lar a notícia de que Bento XVI tinha anunciado o fim de seu papado. Junto ao impacto, veio a inevitável pergunta: qual o tratamento que os jornais, em particular O POVO, dariam ao fato de tamanha importância? Num ritmo muito mais frenético do que o Gangnam do Psy (da batida do nosso maracatu, mais ainda), o assunto, rapidamente, inundou telas, telinhas, ondas de rádio e redes Wi-Fi. Naquela fatídica segunda-feira, o primeiro de dois dias seguidos sem jornal impresso, a Redação estava, em regime de plantão, mergulhada na cobertura da folia. No dia seguinte, terça, iria finalizar a animada e muito ilustrada edição de quarta-feira, com o melhor da festa da carne. Mas, quanto à contundente ressaca do espírito? O jornal tem expertise em festas celebrativas. Essa não era a preocupação do ombudsman. Minha dúvida era outra: o tamanho e a profundidade da cobertura da histórica renúncia de Ratzinger.
Entre a cruz e o mela-mela
A resposta veio ainda no dia anterior, na exata terça-feira de Carnaval. Navegando no Portal O POVO Online, fui surpreendido por um link que levava ao caderno Bento XVI – A Renúncia de um Papa. Em oito páginas, o projeto gráfico, desenvolvido especialmente para a cobertura especial, abrigava não só os detalhes da renúncia, como deu conta de todo o entorno, com repercussões locais, análises e perspectivas. Ampliado para 10 páginas, o encarte circulou na Quarta-Feira de Cinzas, quando a vida começava a voltar ao normal, inclusive a circulação do jornal. O diferencial da cobertura papal no O POVO, que não deixou a dever em nada a qualquer outro jornal de dentro ou de fora do Brasil, foi apontado por uns como a primeira experiência de relevo do Grupo de Comunicação O POVO desenvolvida para a Internet.
Sobre suporte e elogios
Discordo, por uma série de motivos, objetivos e subjetivos, de que o caderno especial sobre o papa foi um marco em produção voltada para a web. A discussão renderia outra coluna. Prefiro a versão de que foi um belo jornalismo – e como tal dispensa classificação. A plataforma, é sempre bom lembrar, é apenas o suporte. Digo isso na condição de quem recebeu muitos telefonemas elogiosos de leitores, os quais não destacaram o fato de o conteúdo estar na forma virtual ou em papel e tinta. E para quem está estranhando o elogio, uma observação: faço-o procurando o fio da sintonia que o ombudsman deve ter com o público. Além do mais, acrescentaria, elogiar acaba fazendo bem à crítica. É um dos fatores que nos deixam muito mais à vontade na hora de apontar erros.
De olho no limite
Na última sexta-feira, O POVO destacou em manchete a decisão do Tribunal Superior Eleitoral, em Brasília, que mantém Carlomano Marques (PMDB) no mandato de deputado estadual. Internamente, fiz pequenas observações ao material publicado. No geral, como também registrei no relatório do dia, merece destaque o fato de o assunto ter sido o principal da edição. Desde setembro de 2010, quando o caso de compra de voto estourou, até hoje, a liminar mantendo-o parlamentar é a mais relevante e esperada notícia para o peemedebista. Por esse e outros motivos, tinha de ser manchete. Quando faz isso, o jornal mostra que, mesmo tendo sido o principal responsável pelo processo de perda de mandato, procura ser isento nos desdobramentos. A cobertura está em toda a imprensa do Estado. O POVO fez a parte dele. A decisão, agora, está nos tribunais. O mais é não tirar o olho do limite finíssimo entre assistir e participar do jogo.
FOMOS BEM
CARNAVAL. ANTES, DURANTE E DEPOIS, apostamos, discutimos e realizamos cobertura relevante
FOMOS MAL
PREÇO DA PASSAGEM DE ÔNIBUS em Fortaleza. Corremos atrás da decisão da Justiça que reviu valor”