Em sua última coluna após dois anos no cargo de ombudsman do Washington Post, Patrick Pexton afirma que foi um privilégio servir como uma ponte entre os leitores e a equipe do jornal e uma honra trabalhar em uma redação com tantos jornalistas distintos. “Espero ter sido bem-sucedido em explicar como o jornalismo está mudando em um mundo midiático transformado pela nova tecnologia e por novos modelos de negócios”, escreveu.
Pexton fez um balanço de seu trabalho. O tópico número um de reclamações durante seu tempo no posto foi o sistema de comentários online do Post. Cerca de 10% das reclamações foram sobre a funcionalidade do sistema, que acabou sendo revisado. Outros 10% foram de pessoas que acreditavam que eram injustamente censuradas. O resto foi de leitores que gostam da ideia dos comentários online, mas abominam os comentários racistas, que incitam ódio ou guerra ideológica.
Antes, Pexton era fã da natureza anônima dos comentários, mas passou a não ser mais. O que o fez mudar de ideia foram os comentários de um artigo publicado em fevereiro sobre um técnico do time de futebol americano de uma escola, que criticou o traseiro da primeira-dama Michelle Obama. Os moderadores mal conseguiam apagar rápido o suficiente os comentários racistas, sexistas e cruéis. Na opinião dos leitores, esses comentários prejudicam a reputação e a marca do jornal.
Para Pexton, o Post deveria mudar de um sistema anônimo para um que requer que leitores usem o nome real e façam o login via Facebook. Isso reduziria o volume de comentários, mas aumentaria o nível do debate e ajudaria a preservar a marca do Post.
Agradecimentos
Os vice-campeões em queixas foram os leitores chamados pelo ombudsman de “policiais da gramática”. São leitores que monitoram erros factuais, de pontuação e de gramática no jornal. As reclamações recebidas por Pexton eram encaminhadas para a seção de correções e para os revisores. Para ele, a “polícia da gramática” ajuda a manter alto o padrão do jornal. Revisores atualmente trabalham o dobro com metade da equipe – e condições como essas tornam erros mais fáceis de ser cometidos.
Pexton aproveitou sua última coluna para agradecer aos revisores pela paciência, assim como ao ex-editor-executivo Marcus Brauchli e aos ex-editores Liz Spayd e Raju Narisetti, que estavam sempre acessíveis para, quando questionados, explicar ao ombudsman seus pontos de vista. Além disso, Pexton agradeceu ao editor de páginas editoriais, Fred Hiatt, que supervisionou sua seleção como ombudsman e nunca o pressionou para escrever – ou não escrever – algo.
Ele também é grato ao executivo-chefe da Washington Post Company, Donald Graham, e à publisher Katharine Weymouth. Pexton sabe que eles não gostaram de muita coisa que escreveu, mas nunca interferiram em seu trabalho. “Os leitores devem saber que, embora o futuro Post possa não parecer com o Post do presente, é firme o compromisso de Graham e Katharine para a sobrevivência desta publicação”, afirmou. “Os leitores também devem saber que as escolhas que o Post enfrenta são dolorosamente difíceis e, no atual momento de corte de custos, vêm invariavelmente com custo humano. Essas são apenas escolhas duras na indústria jornalística. Tenham alguma compaixão por aqueles que as fazem”.
Aos jornalistas do Post, Pexton deixou um recado: eles têm o poder de ajudar a manter a qualidade e a precisão do jornalismo americano. Isso não é pouco, disse. O poder da verdade é o poder de obter justiça, evitar hipocrisia, ajudar os oprimidos, revelar o mundo como ele é. Mas esse poder pode também arruinar carreiras, prejudicar reputações e fazer os personagens das matérias sentirem-se falsamente acusados. “Exerçam esse poder de maneira responsável e sábia”, completou.