Friday, 15 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Adeus ao companheiro

Morreu no sábado (6/4), aos 54 anos, em São Paulo, Edilson Coelho, que teve longas passagens por Abril, Gazeta Mercantil, Estadão e CDN. Didi, como era conhecido, estava na assessoria do Sebrae em Osasco, onde morava. Deixa a esposa Aparecida e os filhos Rafaela, Renan e Patrícia.

>> Fernando Pesciotta escreveu sobre o amigo: “Didi vai deixar saudades. Como diz Carlos Motta, hoje no Valor, sempre esbanjou entusiasmo, sempre tinha uma ideia nova, nunca parava de pensar em coisas para fazer, em projetos para realizar. Como observa o Motta, talvez essa sua imensa vontade de viver, de não descansar nunca, de estar em constante movimento, tenha contribuído para sua morte: ‘Acho que, se ele tivesse se conformado com sua doença, aquele enfisema pulmonar que tanto o limitava fisicamente, e feito como a maioria das pessoas faz, que é se recolher a uma tediosa convalescença, a gente ainda o teria entre nós’.

Conheci o Edilson na redação do Estadão, entre o final da década de 1980 e o começo dos anos 1990. Desde então, testemunhei essa inquietude. Sempre com sonhos de empreendedor. Da revenda de polpas de frutas congeladas a programas de rádio, era um jornalista em busca de realizações. Quando o mercado sinalizava que o futuro seria na internet, Didi, eu, Carlos Motta e Jorge Zappia planejamos o primeiro jornal da internet, que acabou sendo levado a cabo no Terra. À época, era revolucionário, transmitido ao vivo, com imagens externas, um luxo. Merecidamente, por ser o mais empenhado, Didi ficou no projeto, mas eu, Motta e Zappia não conseguimos nos desvencilhar dos compromissos profissionais que tínhamos. O Edilson realizou o sonho, o programa ficou no ar por dois anos, apresentado por Lillian Witte Fibe, que teve a grandeza de embarcar no projeto. Ficou na história. ‘Apesar da tristeza de perder um grande amigo, vou guardar do Didi a lembrança de suas risadas, de seus projetos, exitosos ou não, e de sua imensa coragem para enfrentar a adversidade’, completa. E tinha outra virtude: era santista”.

>> Eleno Mendonça também escreveu sobre ele: “Conheci o Didi na faculdade (Fiam, ele foi inclusive o orador da turma), quando tínhamos grandes sonhos, por acharmos que mudaríamos o mundo. Ao longo da vida nos reencontramos em várias situações e empregos. Trabalhamos em várias frentes muitas vezes. Ultimamente, por causa de seus problemas de saúde, ele estava meio de molho, mas sempre em busca de coisas novas. Nos falávamos com frequência e recentemente ele estava animado, tinha melhorado e estava fazendo algumas coisas no jornalismo. Perdemos todos um grande amigo, companheiro para todas as horas, sempre sorridente, sempre um baita cara”.

>> Costábile Nicoletta, em depoimento no Facebook, foi outro que o homenageou: “Não sei bem por quê, Edilson Coelho e eu sempre nos cumprimentávamos como dois compadres de origem hispânica. Num portunhol castiço, um invariavelmente se dirigia ao outro com um ‘Hey, hombre!’, o que resumia nosso vasto vocabulário espanhol. Estudamos jornalismo na mesma faculdade, demos os primeiros passos na profissão na Editora Abril (ele no paste-up, eu na revisão de textos), em meados dos anos 1980, mas trabalhamos juntos pela primeira vez na Gazeta Mercantil, lá por 1990. Depois nos reencontramos no Estadão, onde produzimos muitas matérias de negócios em dobradinha por vários anos. No Estadão, decidimos fazer um curso de inglês para aprimorar o conhecimento do idioma britânico, tão profundo quanto o nosso ‘Hey, hombre!’. Cley Scholznos acompanhava nessa empreitada. Depois de alguns meses de aula, nossa personal teacher nos abandonou. Teve síndrome do pânico. As más línguas asseguravam tratar-se de um problema causado por nossa dificuldade de cognição linguística, até mesmo com a conjugação do verbo to be.

Didi tinha uma notável capacidade de trabalho, bom humor para desempenhar as tarefas profissionais e pleno comprometimento com os projetos de que participava. Em nossa segunda fase na Gazeta Mercantil (2007 a 2009), coordenou a melhor cobertura feita pelos jornais acerca do apagão de transmissão de dados provocado pela Telefônica, que cunhamos com a seguinte manchete: ‘O dia em que a internet de São Paulo ficou por um fio’. Como costuma dizer o Jaime Soares de Assis, foi como ordenhar monólito (nome científico para‘tirar leite de pedra’). Didi conseguiu entusiasmar aquela equipe de repórteres mal pagos, obrigados a trabalhar sem quase nenhuma estrutura nem reconhecimento por esforço algum. Nos últimos tempos, recuperava-se de sérios problemas de saúde, porém nunca deixou de lado sua veia empreendedora, tampouco a preocupação com os amigos, sobretudo os que também passavam por algum tipo de dificuldade profissional. Quando parecia que as coisas para o Didi começavam a melhorar, somos surpreendidos com a sua partida. Vai reencontrar-se com Ariverson Feltrin e João Bittar, também saudosos amigos que se foram precocemente. ‘Adios, hombre!’”.

>> Por fim, José Paulo Kupfer: “Nós, jornalistas, sei lá se pelas limitações de espaço (atenção: isso também deveria valer nos meios digitais), quando podemos, somos prolixos demais. Pensando nisso, ao lembrar do Didi, queria dar um testemunho sucinto sobre um amigo querido, de três décadas: duvido que alguém encontre, em qualquer canto do planeta, quem, tendo conhecido o Didi, faça alguma restrição a ele, como pessoa e como profissional. Didi era um entusiasmado por tudo o que fazia e, acho que por isso, sempre fazia sorrindo, com alegria e competência. Foi um raro homem bom e de bem”.