Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Futebol europeu como ficção

Não vi a entrevista de Paul Breitner à ESPN, mas conheço a retórica que o torna o guru dos jornalistas eurocêntricos: “O Brasil não joga bola há 20 anos”. A bovina crônica esportiva brasileira (salvo raras e honrosas exceções, como Luiz Zanin, do Estado de S.Paulo) não se dá ao trabalho de lembrar que a Alemanha, país natal de Breitner, não ganha nada (nem Copa nem Eurocopa) há 17 anos: o Brasil foi pentacampeão faz 12 anos, ganhou duas Copas das Confederações há pelo menos cinco, derrotando ou goleando sua Alemanha, Itália e Inglaterra, e nesse ínterim também andou goleando a Argentina (quem diria, nos bons tempos de… Dunga).

É fato que não atravessamos um bom momento, mas não estamos no fundo do poço, como quer Breitner. Temos excelentes jogadores: Lucas, Oscar, Pato, Daniel Alves, Thiago Silva, tão bons quanto os excelentes jogadores europeus que a mídia eurocêntrica adora idolatrar e Neymar só precisa deixar as baladas e de cavar faltas para deixar de justificar o apelido de “Neymarketing”.

De excepcionais, só um latino-americano, Messi, e Cristiano Ronaldo; os nossos craques estão no mesmo nível dos europeus e com eles podemos formar uma ótima seleção.

Claro, há a questão da defasagem dos técnicos, e a CBF perdeu uma boa oportunidade de romper com o corporativismo nacionalista e contratar Josep “Pep” Guardiola, mas ele seria testado na seleção, e não a salvação da lavoura, como pensam os eurocentrados. De resto, Mano Menezes estava encontrando um caminho quando foi substituído pelo decadente Felipão; um erro. Ainda assim, a força do talento do jogador brasileiro é capaz de se impor.

“Futebol internacional”

Três emissoras, Globo, Band e ESPN, transmitiram a partida Paris Saint Germain x Barcelona pelas quartas de final da Liga dos Campeões. A Band até observou que só havia restado um jogador inglês na competição, David Beckham (agora, com o PSG eliminado, não resta ninguém). Mas nenhuma das três assinalou o que interessa: cinquenta por cento, ou seja, metade dos jogadores em campo, eram do nosso Cone Sul: da Argentina, Messi, Pastore, Lavezi, Mascherano; do Chile, Aléxis Sánches; do Brasil, Alex, Daniel Alves, Maxssuel, Tiago Silva e Lucas. (E o narrador da TV paga, desses que exibem o perpétuo sorriso trêfego dos bajuladores, insistia em chamar os jogadores brasileiros Maxssuel e Alex de Máxssuel e Álex.)

Em resumo, o “futebol europeu” dos eurocêntricos é uma ficção, urdida para realimentar o complexo de vira-latas tão em voga na imprensa esportiva. Seria mais honesto chamar o esporte praticado na Europa de “futebol internacional”.

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Silvia Chiabai é jornalista