Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Suzana Singer        

Crítica de cinema provoca reações apaixonadas, semelhantes às do futebol. Uma resenha negativa de ‘Django Livre’, o faroeste de Quentin Tarantino, gerou 628 comentários no site da Folha.

A única estrelinha de ‘Vai que Dá Certo’ deixou uma leitora furiosa, principalmente quando ela comparou às duas estrelas dadas a outra comédia, o ‘De Pernas pro Ar 2’.

Outra leitora estava inconformada com o ‘ruim’ que ‘Anna Karenina’ recebeu. Ela lembrou que Luis Fernando Verissimo escreveu, no ‘Estado de S. Paulo’, que a adaptação da obra de Tolstói era ‘uma experiência imperdível’.

Elogios também provocam polêmica. Um casal se sentiu ‘lesado’ pela crítica da Folha depois de assistir a ‘O Som ao Redor’. Muito bem avaliado pelo jornal, o longa de Kleber Mendonça Filho foi considerado por eles ‘lento’ e praticamente ‘inaudível’.

O que distingue a crítica de cinema na Folha é a variedade de vozes. Enquanto os outros veículos têm dois ou três jornalistas comentando as estreias da semana, nas páginas da ‘Ilustrada’ e do ‘Guia’ há uma dezena de críticos.

A diversidade permite comparar opiniões e dá ao leitor a chance de escolher o seu crítico favorito, aquele cujo gosto mais coincide com o seu –no quadro acima, uma enquete com todos eles.

Por outro lado, ocorre algumas vezes uma certa cacofonia. O dinamarquês ‘A Caça’ foi avaliado como ‘regular’ em outubro e, cinco meses depois, como ‘bom’ na mesma ‘Ilustrada’.

O documentário ‘Francisco Brennand’, sobre o escultor do Recife, foi considerado ‘bom’ no ‘Guia’ e ‘ruim’ na ‘Ilustrada’.

Outro ruído comum é o ‘Guia’ trazer uma avaliação média no seu quadro de críticos e outra diferente no roteiro. Na sexta-feira passada, o suspense francês ‘Dentro da Casa’ recebeu três estrelas no quadro, o que corresponde a ‘bom’, mas apareceu no roteiro como ‘ótimo’ (quatro estrelas).

Não é erro, mas pouca gente entende o critério adotado: as estrelas do roteiro não saem do quadro, são dadas pelo jornalista da ‘Ilustrada’ que fez a crítica.

Além da diversidade de vozes, a Folha tem apostado em resenhar o maior número possível de filmes. Embora democrática, porque atende a diferentes públicos, essa opção picota muito os textos, que acabam enxutos demais.

Uma pauta com mais personalidade, que apostasse em apenas dois ou três filmes por semana, seria mais acertada, já que pequenos comentários podem ser encontrados à fartura na internet.

O leitor sabe que uma boa dose de subjetividade jaz em toda crítica, mas ele cobra uma boa argumentação, que agregue conhecimento e que faça a avaliação parecer menos arbitrária –não dá para fazer isso em três parágrafos. ‘Opinião qualquer um tem, e só é legal até a segunda linha. Do especialista, espera-se mais’, definiu um jovem ator, que escreveu para reclamar dos textos que contam o final do filme.

Se os problemas da crítica de cinema no impresso podem ser resolvidos com pequenos ajustes, no online a Folha tem muito a avançar. O serviço cultural do site é pobre. Mesmo com espaço à vontade, as sinopses dos filmes são telegráficas, mal dá para entender a história. Quase não há trailer, nem link para as resenhas publicadas no jornal.

Falta também interatividade, um canal que permita a cada um opinar sobre o que viu, nos moldes do site de turismo ‘TripAdvisor’. O ‘Guia’ na internet é uma mera cópia do impresso, num momento em que as pessoas se acostumaram a trocar impressões sobre tudo.

É quase pecado um veículo como a Folha, que tem um público formado por consumidores vorazes de lazer e cultura, desperdiçar milhares de opiniões todas as semanas.