O Relatório Leveson tem mais de um milhão de palavras. A imprensa britânica usou um número ainda maior delas para antecipar, analisar, elogiar e criticar o documento e o inquérito que levou a ele. Foi o que revelou o grupo independente sem fins lucrativos Media Standards Trust, criado para promover altos padrões na mídia. Com base em dois mil artigos, um estudo do grupo analisou como a imprensa cobriu seu próprio julgamento. O inquérito, liderado pelo juiz Brian Leveson, foi criado em julho de 2011 a pedido do primeiro-ministro David Cameron, logo após o escândalo dos grampos telefônicos no tabloide News of the World.
Todos os jornais definidos como “nacionais” pelo Audit Bureau of Circulations, órgão que verifica a venda e circulação de jornais no país, foram incluídos na pesquisa. Usando o banco de dados Factiva, foram identificadas 2.016 matérias que expressavam alguma opinião sobre o inquérito, com detalhes sobre determinadas questões ou tratando-o de forma mais ampla.
A análise mostrou que os primeiros artigos foram publicados no dia 13/7/11, quando Cameron anunciou a abertura de um inquérito para avaliar os padrões de qualidade da imprensa britânica. Depois de seis matérias iniciais, 19 foram publicadas no dia seguinte. Como não houve muitos anúncios oficiais sobre o tema, o interesse da imprensa caiu durante o mês de agosto – com a publicação apenas de seis matérias.
Picos de interesse
O pico de interesse seguinte foi observado no dia 21/11/11, quando teve início o primeiro módulo do inquérito (por antecipação, na semana anterior foram publicados 52 artigos). Aumentos semelhantes na cobertura puderam ser observados em cada um dos marcos dos procedimentos do inquérito – como o início dos módulos dois e três (27/2 e 23/4/12, respectivamente).
O estudo também avaliou quais grupos de mídia mais escreveram sobre o inquérito. O Guardian Media Group (GMG), publisher do Guardian e Observer, e a News International (proprietária do Times e do Sun) publicaram mais matérias, totalizando 403 e 398 cada. Os artigos do Guardian e Observer avaliados no estudo totalizam 280 mil palavras, enquanto a News International e a Independent Press Ltd publicaram em torno de 200 mil palavras cada.
Isso explica-se parcialmente porque os veículos do GMG publicaram artigos mais longos do que outras publicações sobre o Inquérito Leveson – uma média de 697 palavras, comparadas a apenas 298 das publicações do Trinity Mirror. No total, no período de tempo analisado, os jornais escreveram 1,1 milhão de palavras sobre o relatório – o que significa que eles publicaram, em tamanho, mais do que o próprio Leveson, que foi considerado “prolixo”. Em relação aos depoimentos prestados por vítimas de abusos da imprensa, executivos e editores de jornais e políticos durante o inquérito (e que foram uma parte importante da cobertura da mídia), 131 artigos foram publicados na semana em que o primeiro-ministro depôs diante da comissão.
Cobertura negativa
O estudo também avaliou as declarações positivas e negativas. A maior parte foi negativa, mas os tabloides foram particularmente hostis, de acordo com os critérios de análise dos pesquisadores. “É surpreendente ver a falta de diversidade de pontos de vista na cobertura do Leveson, não apenas em artigos de opinião, mas também de fontes em artigos de notícias”, disse o autor do estudo, Gordon Neil Ramsay.
Os pesquisadores classificaram o tom como “positivo”, “não importante” (o que significa que a importância do inquérito foi descartada), “ameaça” (quando o artigo viu o inquérito como um risco para a liberdade de imprensa) ou “interpretado erroneamente” (sugerindo que o inquérito era mal pensado ou inviável). Mais da metade (56%) da cobertura da imprensa tratou o inquérito como uma ameaça, 21% como positivo, 18% como mal concebido e apenas 5% como não importante.
O diretor do Media Standards Trust, Martin Moore, é membro fundador do Hacked Off, grupo que defende uma regulação mais rígida da indústria jornalística em nome das vítimas dos grampos telefônicos. Mais informações sobre o estudo neste link (em inglês).
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