Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A primeira emissora para surdos

Sabe aquela tela minimizada que, ao canto inferior direito da TV, reproduz em Libras – Linguagem Brasileira de Sinais –, especialmente aos deficientes auditivos, o conteúdo do áudio do programa? Pois é. Na TV INES, do Instituto Nacional de Educação de Surdos, a ordem é inverter a proporção dessas telas e ampliar a imagem de quem fala na linguagem de sinais. Está no ar a primeira TV para surdos do País.

Segundo estimativas informadas ao Estado pela diretora do INES, Solange Rocha, o Brasil conta com uma plateia em torno de 5 milhões de deficientes auditivos. Veiculada apenas via internet, pelo endereço http://www.tvines.com.br, a TV INES não dispensa o sonho de chegar a um canal com sinal convencional de TV, de preferência no segmento aberto.

Para tanto, vai experimentando um conteúdo a seu modo, com tudo a que uma emissora de TV tem direito. Alguns programas já são especialmente produzidos para o canal, como o humorístico Piadas, o Aulas de LIBRAS e o Tecnologia, sobre novidades e avanços tecnológicos que podem facilitar a vida dos deficientes auditivos. Outros são adaptados para a TV INES, que reedita as imagens inserindo um quadro com linguagem de LIBRAS e legendas na tela. São os casos do Salto para o Futuro, Via Legal, Brasil Eleitor, filmes e desenhos animados. Há ainda o Jornal Visual em três edições diárias, único telejornal dedicado aos deficientes auditivos no Brasil.

“É uma TV para e sobre surdos”, define Solange. “Nossa ideia é criar um entorno positivo a esse universo, para que eles possam ter esse conforto, e que o mundo também entre no universo deles: é um espaço de entrada e de saída.”

Ainda experimental

A ideia nasceu há coisa de dois anos, quando a TV Brasil, em busca de uma assessoria com tradutores intérpretes para surdos, procurou o INES. “Nessa altura, eu estava desenvolvendo um projeto de cultura, em que os professores ficavam em tela cheia, invertendo a lógica daquele quadradinho mínimo da linguagem de LIBRAS.”

Na época, o instituto – ligado ao Ministério da Educação, com sede no Rio de Janeiro – havia comprado vários televisores para criar uma comunicação interna entre os alunos. “Resolvemos daí fazer uma televisãozinha interna”, lembra.

A meta agora é produzir mais, ampliando o menu de títulos feitos pelo canal e reduzindo assim a parcela de programas adaptados. “Montar uma grade é muito complexo”, admite Solange, que chegou ao instituto há 30 anos, como professora de História.

O canal conta hoje com programação diária de oito horas e sua operação ainda é tratada como experimental. Mas é o suficiente para incentivar a comunidade surda a investir em seus talentos criativos. “Temos um grupo bastante criativo de artistas surdos que estão trabalhando nessa televisão, escrevendo, atuando, apresentando”, vibra a diretora. “A ideia é contemplar a diversidade.”

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Cristina Padiglione é colunista do Estado de S.Paulo