Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

A farra das rádios comunitárias

Se não me engano, o objetivo das Rádios Comunitárias seria dar alternativas para o povo com boas músicas, serviços para a comunidade e informação que saíssem do lugar comum das emissoras comerciais. A pergunta é: quais as rádios comunitárias que realmente estão cumprindo seu papel? Vou falar de uma experiência que tive na cidade de Fortaleza. Por um ano, aproximadamente, tentei fazer programas de rádio em rádios comunitárias de minha cidade e não consegui, sabe por quê? Porque eu tentava fazer um programa voltado para a ecologia com uso de temas ecológicos, com discussão de temas das questões ambientais, com formação para os alunos e, sobretudo, com educação de verdade… A lógica destas rádios não é essa… Há rádios que estão dominadas por vereadores que tomam conta da rádio e dizem o que deve ser feito na programação. Rádios, em Fortaleza, são arrendadas a empresários com associações fictícias e sem reunião para discussão de nada – apenas têm interesse na questão do faturamento ao final do mês.

E a fiscalização? Não existe… Não temos acesso à possibilidade de fazer isso nem no Ministério das Comunicações nem na Anatel… Sinal de que pouco vai ser feito para mudar tal realidade e de que, na realidade, na rádio comunitária se obedece à lógica do dinheiro, do manda quem pode e obedece quem tem juízo. A própria Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço) acha tudo isso normal, pois afirma que as rádios comunitárias precisam se manter. A realidade é que a continuar nesta lógica a maioria das rádios deveriam ser fechadas, pois nada têm de comunitárias e a maioria é trampolim para interesses políticos e religiosos. Não há ação do poder público nem da sociedade para mudar esta lógica, nem interesse partidário para gerar uma comunicação que atenda aos interesses reais da comunidade. Estes grupos, como FNDC, Intervozes e outros, não fazem nada nem se interessam pelo problema, que vai continuar, pois parece-nos que os que aí estão concordam com tais absurdos.

A força do dinheiro

Posso dizer claramente que não há rádios verdadeiramente comunitárias em nosso país e as programações repetem a baixaria que têm sido comuns nas chamadas rádios comerciais que tocam músicas de péssima qualidade que têm a ver com a alienação de nosso povo e provocam seu emburrecimento. Não podemos entender essa mudança de lógica e os braços cruzados dos que se dizem defensores dos movimentos populares, pois rádio comunitária no nosso país (me espelho pela minha cidade) não tem nenhuma relação com o povo nem funciona na perfeita legalidade.

O que existe, na realidade, é um canal de uso político ou uma cooptação religiosa que tem a ver com a imoralidade do arrendamento. O que dói é que as rádios verdadeiramente comunitárias foram em sua maioria fechadas pelo simples fato de não atender aos interesses reais dos que estão no poder. As rádios comunitárias são meras fantasias, pois na realidade ninguém faz nada para mudar tal quadro o que prova ineficiência de governo e falta de interesse (ou seria vergonha?) de toda a sociedade. Duro fazer esta análise, mas é a pura verdade… A lei que regulamente estas rádios é mais uma das leis bonitas no papel, mas sem serventia ou ação alguma… Triste realidade que prova a porcaria de sociedade em que vivemos, onde o dinheiro desvirtua tudo e todos…

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Francisco Djacyr Silva de Souza é professor, Fortaleza, CE