Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Voz das ruas dá recado para a mídia tradicional

Nas manifestações populares promovidas pelos jovens em todo o país, os meios de comunicação tradicionais, meios de comunicação de mercado ou ainda meios de comunicação hegemônicos foram questionados e seus editores deveriam refletir sobre o recado da voz rouca das ruas.

No Rio de Janeiro, no sábado (29/6), por exemplo, manifestação promovida por moradores de uma área próxima ao Jardim Botânico saiu às ruas denunciando a injustiça e também a violência policial em comunidades pobres, onde as balas da polícia são letais.

Seiscentas e vinte famílias, correspondente a cerca de 3 mil brasileiros, muitos deles descendentes de moradores do local há mais de 120 anos, podem ser desalojadas da área a qualquer momento. Uma filha de escravos completava 100 anos no mesmo sábado (29), segundo uma das organizadoras da manifestação que preferiu manter-se anônima.

No protesto, que teve o apoio de movimentos sociais representados por jovens, questionou-se também o tipo de cobertura que vem fazendo a Rede Globo sobre questões de interesse de populações de áreas carentes.

No caso das 620 famílias que são acusadas de ocupar área do Jardim Botânico provocando danos ao meio ambiente, a resposta a essa denúncia é omitida na cobertura das Organizações Globo. Segundo as famílias, não há nenhuma ocupação e no fundo da questão está o interesse de grupos imobiliários pela área e ainda o fato de os moradores que pagam o maior IPTU no Rio de Janeiro não quererem conviver em espaço próximo com gente pobre.

Constrangimentos recorrentes

Os manifestantes pararam em frente à sede da emissora, na Rua Von Martius, no Jardim Botânico, e de forma pacífica, sob olhar atento da Polícia Militar, apresentavam cartazes com dizeres críticos ao que consideram manipulação da informação que a Rede Globo promove.

Em coro, manifestantes informavam, entre outras coisas, que “a realidade é dura, a Rede Globo apoiou a ditadura”. Alguns discursos destacavam a importância da democratização dos meios de comunicação como forma de enfrentar a manipulação da informação.

Com exceção de alguns sites, que divulgaram fotos da manifestação contra a remoção das famílias e o protesto contra a Rede Globo, os meios de comunicação de um modo geral ignoraram os acontecimentos ocorridos na porta da maior emissora de televisão do país. Vídeos foram divulgados pelas redes sociais.

Nos protestos ocorridos em várias cidades brasileiras, os meios de comunicação tradicionais também ignoraram o recado contra o tipo de jornalismo que vem sendo feito pela principal rede de televisão do país.

Mesmo que tenham silenciado a respeito dos recados, espera-se que os editores reflitam sobre a voz rouca das ruas na questão da mídia, para que no futuro evite-se a repetição de constrangimentos sofridos por seus profissionais, obrigados a cobrir os acontecimentos sem o crachá identificador da empresa ou ainda produzir imagens a partir de helicópteros e das janelas de prédios de uma forma quase clandestina.

Até porque essa não e a melhor forma de se fazer jornalismo.

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Mário Augusto Jakobiskind é jornalista