Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Facebook, ame-o ou deixe-o

Na sexta-feira (19/7), o Facebook censurou um texto noticioso da Folha publicado na página que o jornal mantém na rede social e na qual tem 1,76 milhão de simpatizantes.

Falava da manifestação de um grupo pró-passe livre em Porto Alegre e mostrava foto de protesto em que pessoas apareciam nuas. Procurada pelo jornal, a empresa não quis explicar a censura.

O Facebook é, hoje, o terceiro “país” do mundo em “população”, com 1,1 bilhão de usuários, 73 milhões deles no Brasil. Pois este “país” é uma ditadura, que pratica censura prévia e póstuma. Sem explicações.

Espiona também seus “cidadãos”, como mostrou o austríaco Max Schrems, em entrevista à Folha (ver “Facebook não respeita as leis de privacidade europeias“). Ele venceu uma ação contra a empresa, que teve de exibir tudo o que tinha arquivado dele: um dossiê de 1.222 páginas, algumas com e-mails que ele pensava ter deletado para sempre.

E divide o que sabe de seus “cidadãos” com “governos amigos”, como fez com o serviço de espionagem dos EUA pelo programa Prism, segundo revelou o britânico Guardian.

Em questão

Não sou um ativista anti-Facebook. Sou “cidadão” desde 2005, quando estudava em Stanford e a rede mal tinha evoluído de sua origem –ajudar nerds a classificar rostos (daí o “face” do nome) como bonitos ou feios.

Mas tenho discutido aqui se devemos nos entregar a essa “rede social” sem questionar suas práticas e sua ética. Como numa seita, muitos não querem nem ouvir falar disso.

Um apresentador de TV que respeito insinuou que o “mimimi” da “grande mídia” com o Facebook era inveja. Uma amiga e ex-editora da Folha disse que, com tantas objeções, o jornal não deveria estar ali.

“O espírito do Facebook é ame-o ou deixe-o?”, provoquei, citando um dos slogans da ditadura militar (1964-1985). Ela respondeu que, “se há tantas restrições sobre a postura empresarial das redes, me parece, sim, um ame-o ou deixe-o”.

Não amo, nem deixo. E continuarei a questionar.

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Sérgio Dávila é editor-executivo da Folha de S. Paulo