Na semana passada, a página editorial do Wall Street Journal elogiou a agência semioficial de notícias iraniana Fars, que rapidamente revelou que a tradução feita pela CNN da entrevista com o presidente do Irã, Hassan Rouhani, estava errada e que ele não teria usado a palavra “Holocausto”. O intérprete da rede de TV americana teria traduzido Rouhani descrevendo o Holocausto como um crime repreensível cometido por nazistas contra judeus. A entrevista foi conduzida pela veterana jornalista Christiane Amanpour.
O ex-presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, é conhecido por negar o Holocausto e por suas críticas a Israel. Por isso, o WSJ, que costuma defender Israel e criticar o Irã, elogiou a Fars pela “honestidade”. Ainda assim, levantou questões sobre a sinceridade por trás do recente charme diplomático de Rouhani, que chegou a falar com o presidente americano Barack Obama por telefone, na primeira comunicação direta entre os líderes desses dois países desde a Revolução islâmica de 1979.
Há algumas semanas, o líder iraniano publicou no Twitter mensagem desejando bom ano novo judeu, e a Fars logo divulgou que o tuíte teria sido escrito por assessores do presidente e não por ele próprio – levando neoconservadores americanos a suspeitar dos movimentos de Rouhani em direção ao Ocidente.
Cenário polarizado
A mídia iraniana é dividida entre os linha-dura e os reformistas. A Fars destacou-se nos últimos anos como a voz conservadora mais influente. A agência é diretamente ligada à Guarda Revolucionária, unidade militar de elite do país. Seu editor é, há anos, Hamid Reza Moghadam Far, agora vice-comandante da Guarda. Junto com o jornal Keyhan, a Fars é considerada porta-voz dos clérigos e comandantes linha-dura no poder, que, quando tiveram suas relações com Ahmadinejad estremecidas, há dois anos, começaram a atacá-lo.
Os linha-dura do Irã não têm paciência com a jornalista da CNN, de nacionalidade britânica e iraniana e, segundo eles, tendenciosa contra o Irã. No entanto, no caso da tradução da CNN, repórteres da Fars alegaram estar apenas tentando corrigir o erro da emissora. “Jornalistas devem corrigir erros. Se Christiane estiver disposta a dizer que foi erro do tradutor e não dela, vamos publicar isso na Fars”, disse Mostafa Afzalzadeh, que trabalha para a agência.
Aliados de Rouhani não gostaram da polêmica em torno da tradução, e afirmaram que a equipe do atual presidente busca distanciar-se da negação do Holocausto feita por seu antecessor. “Essa agência, que não é importante, quer fazer uma tempestade em copo d’água”, disse Saeed Laylaz, economista próximo à atual administração que, durante o governo de Ahmadinejad, foi preso acusado de prejudicar o país. “Na entrevista, Rouhani condena várias vezes os crimes contra judeus, o que significa que condena o Holocausto, mesmo se ele não usou especificamente essa palavra. Nesse cenário de guerra política e midiática, políticos são forçados a ser ambíguos em questões delicadas. Se ele tivesse falado Holocausto ou genocídio, seria atacado ainda mais”.