Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Site de jornalismo científico proíbe comentários de leitores

O site da revista Popular Science anunciou, na semana passada, uma decisão que chamou a atenção da mídia e do público: a partir daquele momento, passaria a impedir comentários de leitores. Segundo a equipe, não foi uma decisão fácil para uma publicação de tecnologia e ciência que existe há 141 anos e tem como compromisso fomentar o debate intelectual. No entanto, a Popular Science argumentou que “comentários podem ser ruins para a ciência” devido à quantidade de trolls (pessoas cujo comportamento desestabiliza uma discussão) e spams (publicidade em massa) na rede. A diretora de conteúdo do site, Suzanne LaBarre, explicou que os comentários “destroem o consenso popular” de temas validados cientificamente, como mudança climática e evolução.

Comentários inoportunos não são exclusividade da Popular Science. O site também não recebe somente conteúdo desse tipo; há vários comentários inspiradores e instigantes. Mas, segundo um estudo recente liderado pela professora Dominique Brossard, da Universidade de Wisconsin-Madison, mesmo sendo em número menor, os comentários inoportunos podem alterar a percepção do leitor sobre uma matéria. Na pesquisa feita por ela, 1.183 americanos leram um post falso em um blog sobre nanotecnologia e disseram como se sentiram em relação ao tema. Então, divididos em dois grupos, eles leram comentários civilizados ou mal-educados (algo como “se você não vê os benefícios da nanotecnologia, você é um idiota”) sobre os benefícios da nanotecnologia. Os resultados mostram que os comentários mal-educados não apenas polarizaram os leitores como também mudaram a interpretação da notícia em si.

No grupo com comentários educados, os que inicialmente apoiaram ou não a nanotecnologia continuaram a se sentir do mesmo modo após a leitura dos comentários. Já os expostos a comentários rudes acabaram muito mais polarizados sobre seus riscos.

Com base na ideia de que os comentários moldam a opinião pública, que esta por sua vez molda políticas públicas, e que estas moldam como, se e o que uma pesquisa receberá como financiamento, fica mais fácil compreender os motivos que levaram o site a não permitir comentários, argumentou Suzanne. A Popular Science reforça que há inúmeras maneiras de manter contato com os leitores, como Twitter, Facebook, Google+, Pinterest, chats, email, entre outros. É possível, ainda, que comentários sejam abertos em determinados artigos que levem a uma discussão inteligente e vívida.

Não há verdade absoluta

Há sites que tomam atitudes menos drásticas, como o da New Republic, que esconde a seção de comentários com apenas um clique. Já comunidades como o Reddit elevaram o status da seção de comentários, confiando na sabedoria da maioria, com as mensagens mais populares ganhando destaque.

Para Derek Thompson, da The Atlantic, comentários são, ao mesmo tempo, bons e ruins para o jornalismo. Alguns artigos são melhores com feedback, outros com uma audiência silenciosa. Há alguns meses, a equipe digital da revistareuniu-se para discutir a estratégia de comentários. Depois de horas de debate, a maioria optou por uma solução democrática, de modo a encorajar e premiar os comentários mais inteligentes, e usar tecnologia para apagar os sexistas e racistas.

A jornalista Alexandra Petri, doWashington Post, recomenda que repórteres não leiam os comentários dos textos que escrevem, pelo fato de ser muito mais difícil engolir críticas do que elogios. Para ela, quanto menos as pessoas que fazem comentários têm em comum, mais rude será o teor deles. Os lugares com conteúdo mais educado e vibrante são os sites que fizeram um esforço para criar um sentido de comunidade. Mas isso não acontece nos grandes sites de notícias.