Condenado no julgamento do mensalão e personagem de uma biografia não autorizada lançada recentemente, o ex-ministro José Dirceu defendeu nesta quarta-feira “algum limite” para os autores de obras deste tipo. Dizendo estar “muito dividido” sobre a atual polêmica a respeito da proibição de biografias não autorizadas, Dirceu disse compreender a crítica dos biografados, mas afirmou que não impõe óbice a quem queira escrever sobre ele.
– Acredito que os biografados tenham sua razão de pedir que seja autorizada (a biografia). Mas nós precisamos tomar cuidado porque precisamos respeitar sempre a liberdade de quem quiser escrever com as restrições que a lei impõe. Mas acho que os que estão defendendo que não seja permitida biografia não autorizada têm razões. Vamos debater, ver como evolui isso. Tem um projeto na Câmara autorizando, mudando a lei, e tem a ação no Supremo. Acho ruim colocar no Supremo isso. Acho que é bom deixar formar uma opinião na sociedade, formar o direito, deixar os tribunais decidirem, formando jurisprudência, porque acho que precisa ter algum limite – disse Dirceu, à saída do lançamento do novo portal “Carta Maior”, em São Paulo.
Dizendo que não precisa de dinheiro, Dirceu afirmou que sua experiência “não foi boa”. O livro sobre a vida do ex-ministro, “Dirceu, a biografia”, foi escrito pelo jornalista Otávio Cabral, editor-executivo da revista “Veja”.
– Estou muito dividido porque a minha experiência não é boa. Foi publicada uma biografia não autorizada a meu respeito. Nunca falei uma palavra sobre ela e não vou falar. Não coloquei nenhum obstáculo. Todos os que me ligaram dizendo que foram procurados para ser entrevistados eu disse “dê a entrevista”. Mas o resultado não foi bom – disse ele, que não quis dar entrevista para o livro.
Imagem e honra
Esta semana [passada], a discussão ganhou mais fôlego quando artistas como Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento e Gilberto Gil defenderam as restrições à produção de biografias sem autorização do biografado. O ex-ministro disse que não foi procurado pelo grupo, mas apoiou a posição dos artistas.
– Até porque eu também nunca falei uma palavra sobre isso. Eu não tenho ânimo de impedir ninguém que escreva, faça filmes sobre mim. Se tem uma vida que é pública no Brasil, é a minha. Não tenho medo de que falem sobre mim. Não tenho esse temor. Também não tenho essa preocupação financeira porque eu não preciso de dinheiro– disse o ex-ministro que, questionado se estava bem financeiramente, respondeu: – Dentro das circunstâncias, estou. Dentro das circunstâncias – afirmou.
Para Dirceu, distribuir rendimentos dos livros aos personagens biografados não seria a solução, pelo menos em seu caso:
– O problema não é a questão financeira. Ainda que seja uma questão real: quem faz uma biografia não autorizada, se vender um milhão de exemplares, se ganhar R$ 4 por exemplar, ganha R$ 4 milhões. E o biografado pode ter sido destruído com a biografia. Nem sempre com base em fatos – disse.
Dirceu criticou ainda a Justiça no que diz respeito a julgamentos sobre direito de resposta.
– O problema é que a lei na Justiça não funciona em matéria de crime contra a imagem e a honra. Acaba funcionando a pressão da mídia porque o Judiciário não tem coragem muitas vezes de enfrentar a questão do direito de resposta e dos crimes contra a honra. Tanto é verdade que está sendo discutida no Congresso uma nova lei de direito de resposta – ressaltou.
O petista não quis falar sobre as eleições do ano que vem e nem sobre o julgamento dos recursos do mensalão.
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Tatiana Farah, do Globo