Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Indústria de mídia começa a encarar seu futuro digital

Dois anos atrás, a ACK Media, com sede em Mumbai, distribuía mensalmente mais de seis milhões de livros, revistas e DVDs por toda a Índia. Em 2007, começou a investir também em revistas em quadrinhos. Então os problemas logísticos começaram a aparecer. “O sistema de distribuição física estava falido”, lembra Samir Patil, dono da companhia.

Em 2012, Patil e seus sócios venderam a ACK Media para a Future Ventures e partiram em uma nova empreitada. No próximo ano, lançarão o Scroll.in, uma publicação digital de notícias indianas para leitores indianos. É um dos poucos veículos da nova mídia abordando o que é visto como uma lacuna do mercado: um déficit de opções inteligentes na Internet em uma nação cheia de leitores de jornais impressos.

A Índia é frequentemente considerada o último vestígio de sucesso do jornalismo impresso. Com uma taxa de alfabetização crescente, principalmente em áreas rurais, os jornais continuam a vender bem por lá. Segundo um estudo nacional, a mídia impressa continua a crescer. Cada um dos três maiores jornais diários alcança mais de 12 milhões de leitores.

Aposta no digital

No entanto, a mídia indiana não estava imune a problemas econômicos em conjunto com uma população cada vez mais conectada à rede. As revistas, em particular, estão sofrendo. Das dez maiores revistas do país, somente duas aumentaram o número de leitores no último trimestre. A editora Outlook Group recentemente fechou três de seus títulos internacionais e a ABP Group vendeu sua revista de 22 anos, a Bussinessworld.

É este vácuo que Patil pretende preencher. Nos próximos 18 meses, o Scroll.in planeja aumentar sua redação para 20 jornalistas, que oferecerão análises e reportagens originais. O design da publicação será voltado para aparelhos móveis. “Todo mundo que compra uma revista por 100 rúpias provavelmente possui um smartphone ou um tablet”, diz Patil. Uma rúpia é o equivalente a 1,63 dólares.

O empresário não está sozinho em sua aposta. Enquanto alguns jornais param de crescer, a VCCircle, uma publicação online de seis anos, está expandindo sua redação de 50 pessoas. Em agosto, um par de publicitários lançou o ScoopWhoop, site de listas e links, parecido com o Buzzfeed.

No entanto, todo novo empresário enfrenta um velho problema digital, especialmente na Índia: a monetização. Com uma penetração superficial da Internet no país, a receita publicitária digital ainda é tímida. No ano passado, a receita com anúncios online chegou a 369 milhões de dólares, um crescimento de 30% comparado ao ano anterior. Mas, em comparação aos EUA, que lucraram 109,7 bilhões de dólares com publicidade digital neste ano, a quantidade é ínfima. A Associação de Internet e Celulares da Índia, a IAMAI, prevê que a receita continue a crescer, mas diz que ela continuará abaixo do lucro gerado por publicidade na mídia impressa e na televisão.

Patil argumenta que as taxas estão baixas porque a qualidade jornalística do país também está. “A Índia merece um jornal nacional melhor do que o que temos”, diz. O maior jornal em inglês do país, o Times of India, está ligado ao maior site, o Times Internet, que possui versões em hindu, inglês e outras três línguas regionais. Quase 24 milhões de indianos visitam o site mensalmente. O segundo site mais popular, Network18, também é um conglomerado, de propriedade parcial de Mukesh Ambani, o homem mais rico da Índia. No ano passado, a empresa registrou receita de 14,3 milhões de dólares com suas operações digitais.

Desafios pela frente

Assim como leitores em inglês, os consumidores de línguas regionais também estão mudando a mídia. O Newshunt é um aplicativo no mercado há quatro anos que se associa a jornais para oferecer uma versão em telefones móveis. Comprado pela empresa Verve no ano passado, o Newshunt diz ter 31 milhões de leitores de 87 publicações, em 11 idiomas. A grande maioria (95%) de suas visitas são para notícias regionais.

Apesar do sucesso, o aplicativo tem se esforçado para encontrar anunciantes. A maior parte das notícias consumidas na Índia não é em inglês, mas os anúncios são. “Estamos tentando convencer os anunciantes, mas nenhum está experimentando agora”, conta Vishal Anand, responsável pelo aplicativo.

Por enquanto, as empreitadas digitais estão à procura de leitores em inglês. No ano passado, o VCCircle começou a oferecer um serviço de notícias exclusivas por uma taxa anual de 100 dólares. Já os donos do ScoopWhoop irão apelar para a polêmica estratégia de conteúdo patrocinado para pagar suas contas. O Scroll.in, financiado por seus donos, está à procura de investidores e considerando anúncios patrocinados. O foco, segundo Patil, é construir uma audiência em dois anos.

Por muito tempo, o popular jornalista Naresh Fernandes via a digitalização de sua profissão com ceticismo. Agora, é um dos fundadores do Scroll.in. “Patil possui ideias excelentes e realistas sobre como devemos tocar o negócio. Nós estamos nisso a longo prazo, para explorar como podemos fazer o jornalismo funcionar”, diz. Já para Patil, “a ideia de que jornalistas estejam fazendo algo para o bem comum, não só como um modelo de negócios, está bem viva. Para o bem ou para o mal”.