Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Foto de seio na capa do ‘NYT’ provoca controvérsia

Uma fotografia publicada na primeira página do New York Times na semana passada deixou muitos leitores “perturbados ou ofendidos”, afirmou a ombudsman do jornal em seu blog. A imagem ilustrava um artigo de uma série chamada “The Cancer Divide”, que examina as diferenças no tratamento do câncer de mama de acordo com a culturas, os valores e a classe social das pacientes.

O artigo abordava o alto índice de câncer de mama em Israel e os esforços para fazer testes que identificam mutações nos genes em um país onde o número de mastectomias preventivas é baixo. A foto mostrava o seio de uma paciente de câncer, com uma cicatriz, um pedaço do mamilo e, perto do ombro, uma Estrela de Davi tatuada.

 

 

Registrada pela fotógrafa Rina Castelnuovo, de Tel Aviv, a imagem ganhou comentários em outras publicações e acabou provocando debates no Twitter. A Slate previu que a discussão seria intensa por conta do pedaço de aréola mostrado na foto.

Diversos leitores escreveram para a ombudsman. Um leitor da Califórnia classificou a fotografia de “horrível e esquisita” e a comparou a uma imagem, publicada na primeira página há algumas semanas, de um mergulhador logo após bater um recorde de mergulho de profundidade – e momentos antes de morrer. Outros citaram uma imagem, publicada dias antes também na capa do Times, de uma mulher morta – nesta, como na foto do seio, não era mostrado o rosto.

“Imagens transmitem fatos e emoções de maneiras que estão fora do alcance da palavra escrita. Elas são cruciais na narrativa das notícias. Mas estas fotos de mulheres sem cabeça, com diferença de poucos dias, parecem mais uma tentativa de vender as notícias escandalizando e glamourizando o sofrimento das mulheres. Para mim, estas duas fotos ultrapassaram o limite – tanto ético quanto estético”, escreveu Carolyn Cannuscio, professora de medicina da Universidade da Pensilvânia.

Outros leitores criticaram a tatuagem da Estrela de Davi por conta de associações com o Holocausto. Para Jeanine Parisier Plottel, professora da City University de Nova York, a tatuagem lembra como os nazistas marcavam os judeus nos campos de concentração. “Ainda que uma jovem mulher nascida meio século depois das atrocidades em questão não tenha noção desta insinuação, o New York Times deveria ter, e não deveria dar destaque a esta fotografia”, escreveu ela.

Direto ao ponto

A ombudsman diz que não ficou surpresa com a reação dos leitores. Surpreendeu-se, na verdade, com a foto na capa do jornal. “Nunca tinha visto nada como esta imagem na primeira página de um jornal e achei surpreendente, para dizer o mínimo”, diz Margaret, que procurou a editora de fotografia Michele McNally para saber por que – e como – a fotografia do seio foi escolhida.

Para Michelle, a foto é extremamente forte, pois tem valor jornalístico e mostra a verdade. “[A foto] vai direto ao ponto da história”, resumiu. “Ela passa muitas informações. Traz a realidade à tona. E também é muito bonita – a iluminação, a composição, o tom”. A editora disse que gostaria que a mulher da foto não fosse anônima e mostrasse seu rosto, mas esta foi uma escolha dela, e deve ser respeitada.

Sobre a comparação com a foto da mulher morta – também sem rosto – publicada dias antes na capa, Michelle diz que não há uma tendência no jornal e defendeu que elas são diferentes. Uma é um registro, a outra é essencialmente um retrato, afirma. “São ambas ótimas fotos com tons, emoções e informações diferentes”.

Segundo Michelle, os editores do alto escalão do Times não tiveram problema com a foto do seio para ilustrar o artigo sobre o câncer de mama. E, enquanto o jornal não tem a intenção de ofender os leitores, diz ela, muitas vezes imagens fortes irão provocar reações negativas. “Cada um traz algo diferente à experiência de olhar para uma fotografia”.

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