Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Casa Branca recebe críticas e boicote por impedir acesso de fotojornalistas

A prática da Casa Branca de impedir fotógrafos de cobrir determinados eventos do presidente Barack Obama vem recebendo críticas da mídia americana. No mês passado, 38 organizações de notícias enviaram uma carta ao secretário de Imprensa da Casa Branca, Jay Carney, em protesto ao acesso restrito de seus fotojornalistas, e alguns jornais, como o USA Today, não estão publicando fotos oficiais distribuídas pela presidência.

O fotógrafo da Associated Press Charlie Dharapak e o colaborador da Time Brooks Kraft falaram no programa The Daily Rundown with Chuck Todd, da MSNBC, sobre a necessidade de se ter outro ponto de vista sobre as atividades do presidente, além das lentes do fotógrafo oficial da Casa Branca, Pete Souza. “O que está acontecendo agora é que essas fotos estão indo parar nas mesas de edição ao redor do mundo sem um filtro, e cabe às organizações de notícias informar que elas são provenientes da Casa Branca e filtrá-las”, disse Kraft.

O apresentador do programa, ChuckTodd, observou que algumas pessoas poderiam ver essas fotos de eventos aos quais a mídia não teve acesso como “propaganda”. “Propaganda é uma palavra forte, mas o público precisa estar ciente de que, quando vê a Casa Branca fotografar, aquilo é basicamente um comunicado de imprensa visual. Ele tem que compreender que este é um ponto de vista que a Casa Branca quer que você veja”, explicou Dharapak.

Na semana passada, o New York Times publicou um artigo de opinião escrito por Santiago Lyon, vice-presidente e diretor de fotografia da Associated Press, abordando o “controle de imagem orwelliano de Obama”. Ele alerta que a resposta do vice-secretário de imprensa, Josh Earnest, à carta enviada pelas 38 organizações, alegando que a Casa Branca divulgou mais imagens do presidente no trabalho do que qualquer outra administração, reforça que ele não entendeu a questão.

Propaganda?

Lyon chama as imagens distribuídas pela Casa Branca de “propaganda” e observa que a foto que ficou mundialmente famosa em que Obama tirava uma fotografia de si próprio com o celular (conhecida como “selfie”) com a primeira-ministra dinamarquesa Helle Thorning Schmidt e o primeiro-ministro britânico David Cameron no funeral de Nelson Mandela foi uma “democratização da imagem”. “Não democrático, ao contrário, é a forma que a administração de Obama (…) tem tentado sistematicamente ignorar a mídia ao lançar um registro visual higienizado de suas atividades por meio de fotografias oficiais e vídeos, à custa do acesso do jornalismo independente”, escreveu. “A imprensa que cobre a Casa Branca foi proibida de fotografar Obama em seu primeiro dia de trabalho em janeiro de 2009. Em vez disso, foi divulgado um conjunto de imagens cuidadosamente controladas. Desde então, a imprensa teve permissão para fotografá-lo sozinho no Salão Oval apenas duas vezes: em 2009 e em 2010, ambas as vezes quando ele estava falando no telefone. Fotos dele no trabalho com sua equipe no Salão Oval – atividades a que administrações anteriores rotineiramente concediam acesso – nunca foram permitidos”.

O acesso da mídia ao presidente não exclui a importância da distribuição de fotos oficiais, e vice versa; é possível haver um equilíbrio. As agências de notícias podem escolher usar a foto oficial quando seu valor de notícia é convincente e a foto foi tirada em um lugar fora dos limites de jornalistas. A Associated Press rejeita a grande maioria das fotos enviadas pela Casa Branca porque elas mostram atividades de interesse jornalístico de relevância pública em locais onde os jornalistas deveriam fortemente ter acesso.

Privado e compartilhado

Segundo Lyon, atualmente qualquer evento que envolva o presidente exercendo suas funções oficiais é arbitrariamente rotulado como “privado”, com acesso proibido à mídia. Um pouco mais tarde, no entanto, divulga-se uma foto oficial na página da Casa Branca no Flickr ou via Twitter para milhões de seguidores. “Até que a Casa Branca revise suas restrições draconianas sobre o acesso dos fotojornalistas ao presidente e dos cidadãos sedentos por informação, seria sábio tratar essas fotos por aquilo que são: propaganda”, conclui Lyon. “As fotos oficiais da Casa Branca (…) mostram o presidente da melhor forma possível, como seria de esperar de uma administração altamente consciente do poder da imagem em um momento de compartilhamento instantâneo de fotos e vídeos”.