Sabemos que o jornalismo está baseado na democracia. E, sem ela, ele simplesmente não pode existir ou, se existe, está sob uma condição limitada. O Brasil goza atualmente de total liberdade de imprensa, não tendo nem mesmo uma lei que a regule. Nesse ambiente de total liberdade – de acordo com os pressupostos históricos da profissão – o jornalismo honesto e imparcial irá florescer naturalmente, já que não há impeditivos para a apuração e publicação de qualquer assunto.
Mas não é isso o que ocorre na prática. Vemos, claramente, uma grande imprensa que escolhe um lado e que age, muitas vezes, em defesa de determinados grupos ou partidos políticos. Não estou dizendo que o correto seria que tais veículos agissem de forma totalmente imparcial. A imparcialidade plena é algo impossível de se atingir. Somos subjetivos e assim agimos para construir nossa realidade.
Ao fazer um estudo aprofundado sobre as teorias do jornalismo para a confecção do livro Teorias e Técnicas do Jornalismo e da Comunicação (Agbooks, Rio de Janeiro, 2013) chegamos a conclusão de que a parcialidade é mesmo inevitável. Dessa forma, é corretíssima a atitude dos grandes veículos de comunicação dos EUA em declarar o apoio a um grupo político e ideológico.
Interpretação do mundo e realidade local
Aqui no Brasil a ideia ainda causa espanto. Basta lembrar da decisão corajosa do jornal O Estado de S.Paulo nas eleições de 2010, quando em editorial declarou o apoio ao candidato à presidência José Serra (PSDB). Houve muitas críticas de leitores que ainda acreditam que a realidade pode ser veiculada sem qualquer tipo de distorção voluntária ou involuntária nos veículos de comunicação.
Mas foi o correto e seria melhor ainda que todos os grandes veículos fizessem o mesmo, principalmente para o próximo ano, no qual teremos novamente as eleições presidenciais. Quando um jornal declara o apoio a um candidato, declara também quais são seus princípios ideológicos, ou seja, age de forma honesta com o leitor.
Assim, quando o leitor fica ciente de que determinada redação jornalística declara ser regida pelos princípios neoliberais ou marxistas, sabe que as reportagens seguirão uma dessas formas de ver e entender o mundo. E isso não significa que tais reportagens serão desonestas, muito pelo contrário, serão bem mais honestas ao deixar claro para o cidadão como tal veículo interpreta o mundo e a realidade local.
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Bruno Barros Barreira é jornalista profissional e professor de História, editor do site Análises e Estudos de Jornalismo