Estou com medo. Eu que sou uma mulher guerreira. Eu que venci na vida na carreira que escolhi, tendo me tornado uma jornalista respeitada. Estou com medo. Eu que criei dois filhos que se tornaram homens de bem que cantam suas mensagens para o mundo. Estou com medo. Eu que vou, se Deus quiser, vencendo um câncer. Estou com medo. Mas não um medo que me paralise.
A covardia que assassinou meu colega e amigo Pedro Palma, dono do jornal Panorama Regional, não pode ficar impune. Cheguei do enterro pensando que a voz dele não pode se calar. Ele foi baleado com três tiros na porta de casa, em Miguel Pereira, onde moro, na frente de sua filha de 18 anos, não por estar investigando algum grande escândalo. Seu jornal, Panorama Regional, de menos de 10 mil exemplares de tiragem, estava dando notícias sobre a realidade dos municípios da região do Vale do Paraíba do Sul. Falta de ônibus para Universitários e crianças, verbas de menos para hospitais, descasos do Poder Público Municipal com suas obrigações comezinhas. Será possível que sua vida foi ceifada brutalmente por causa disso?
Cascudo mudo
Estou com medo. Mas o cidadão das cidades em que o Panorama é lido merece esse espaço e se o preço de denunciar que não são cumpridos nossos direitos ao que a Constituição nos garante e nossos impostos pagos nos permitem exigir é a morte, será que devemos abaixar a cabeça? Estou com medo, mas prefiro não me acovardar. Eu vou lutar. Eu vou falar. Eu vou escrever. Vamos juntos? Como escreveu meu filho, Gabriel o Pensador:
Não adianta olhar pro céu com muita fé e pouca luta
Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer e muita greve
Você pode e você deve, pode crer
Não adianta olhar pro chão, virar a cara pra não ver
Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus sofreu
Num quer dizer que você tenha que sofrer
Até quando você vai ficar usando rédea
Rindo da própria tragédia?
Até quando você vai ficar usando rédea
Pobre, rico ou classe média?
Até quando você vai levar cascudo mudo?
Muda, muda essa postura
Até quando você vai ficando mudo?
Muda que o medo é um modo de fazer censura
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Belisa Ribeiro é jornalista