Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Daniela Nogueira

Dentre os muitos conhecimentos que o jornalista deve ter, um deles versa sobre o domínio da língua portuguesa – ou, pelo menos, a segurança ao saber usá-la. A língua é o meio pelo qual exercemos a tarefa de comunicar. Quando cometemos um erro do tipo, temos todo o nosso trabalho posto em xeque, além de perdermos ponto na credibilidade com o leitor.

O problema não é novo. Erros de português, seja no O POVO, seja na mídia em geral, não são eventos apontados apenas recentemente. Mas nem por isso devem escapar à nossa preocupação constante e ao contínuo processo de aperfeiçoamento, natural à capacitação que nossa profissão exige.

Tipos de erro

Nestes quase três meses em que estou avaliando o nosso material todo dia, tenho, com a ajuda dos leitores, atentado a erros, por vezes, vexatórios. Dentre eles, falhas na grafia correta de palavras (por desconhecimento ou por erro de digitação), equívocos em concordâncias de verbos e de nomes, sinais de pontuação indevidos, falta de paralelismo semântico ou sintático, pleonasmos, repetições, construções de períodos que não obedecem à coesão e à coerência que o texto deveria ter. São alguns dos tipos mais recorrentes dos nossos erros.

Já escrevemos “expectadores” (o certo é ‘espectadores’), “intensão” (intenção) e “vasamento” (vazamento), por exemplo. Dia desses, também vi um “chuvas espaças”. Na verdade, queríamos fazer referências às “chuvas esparsas”. Acentos indicativos de crase também são um problema para os nossos jornalistas. Publicamos frases como: “dá acesso à Canindé”, “galã à toda prova”, “de segunda à sábado”, “motor à diesel”, “estimular o turista internacional à conhecer”, “de esperança à realidades”. Em todas elas, o acento é indevido.

A nova ortografia

Com a adoção da nova ortografia, o problema se complicou. Hifens e acentos agudos aparecem onde não existem e somem de onde deveriam estar. “Quartas de final”, expressão que não tem mais hífen, vez por outra, ganha os traços nas nossas edições. A palavra “fiéis”, que continua com o acento, já que a grafia das oxítonas não se alterou, também perde o acento frequentemente no O POVO. Quando me refiro ao nosso material, estou focando o jornal impresso e o portal O POVO Online.

Não há segredo para a obtenção de um texto correto, do ponto de vista do uso da língua portuguesa. A profissão de jornalista exige leitura e exige qualificação permanente. Além disso, não podemos comparar os erros de português aos erros de informação. Estamos falando de dois problemas importantes e que merecem nosso esforço a fim de serem evitados. No entanto, é preciso ressaltar que falhas na construção do texto colocam sob suspeição o conteúdo que apresentamos, e a incidência desses lapsos contribui para a perda da confiabilidade que mantemos com o público.

O que diz a Redação

Sobre o assunto, o diretor-adjunto da Redação, Erick Guimarães, me respondeu: “A Chefia de Redação está sempre preocupada com os erros publicados – sejam eles de português, de informação ou de qualquer outro tipo. Esta é uma tarefa cotidiana de aprimoramento que passa, inclusive, pelo acompanhamento do ombudsman e de inúmeros de contatos diários de nossos leitores, sejam diretamente à Redação, seja por meio de redes sociais. Passa também pela correção de todos os erros identificados.

De todo modo, desde o fim do ano passado, foi criada uma comissão interna formada por seis profissionais do Grupo especificamente para melhorar a qualidade do jornal. Esta comissão está em fase final de elaboração de uma política interna de monitoramento de erros e de treinamento de pessoal, que será realizada ao longo de 2014.”

A qualidade

O cuidado, o zelo e a necessidade de aprimoração devem ser buscados pelo jornalista. Repórteres ou editores, sabemos da pressa com que lidamos dia a dia e de como isso influencia na qualidade dos nossos textos. Mas isso não pode ser usado como justificativa para a má qualidade textual. O problema, muitas vezes, tem causas bem anteriores, como a nossa formação mal feita (em geral, muitos carregam o peso de ter cursado um ensino fundamental e um ensino médio com falhas).

O certo é que o leitor continua exigente. Quer no meio impresso, quer no ambiente digital, nossa obrigação é entregar um produto criado com responsabilidade. Um texto bem apurado, bem editado e (também) bem escrito.

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Daniela Nogueira é ombudsman do jornalO Povo