Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

USP pode perder acervo de Paulo Rónai

Parecia que o acervo de Paulo Rónai (1907-1992), guardado há décadas num sítio na Região Serrana do Rio, finalmente teria o destino correto: uma instituição pública, que o catalogaria e abriria para pesquisadores. Mas agora esse destino está ameaçado. Mergulhada desde o começo do ano em uma crise para fechar as contas, a Universidade de São Paulo (USP), que no ano passado acertara a compra do acervo com as herdeiras de Rónai, ainda não pagou os R$ 800 mil combinados. Diante dos problemas financeiros da USP, o destino do acervo ainda é incerto. Procurada, a universidade não respondeu aos pedidos de entrevista até o fechamento desta edição.

O compromisso da USP foi assumido em outubro do ano passado, depois de uma disputa com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que também estava interessada na compra do acervo composto por 7.813 livros e mais de 60 mil documentos. A universidade paulista não chegou ainda a transportar a biblioteca para suas instalações, outro compromisso assumido com as herdeiras. “Não pagaram nem um tostão. Me disseram que houve a mudança de reitor e estão revendo todas as contas”, afirma Laura Rónai, que liderou a negociação em nome da família. “A coleção está se deteriorando. A casa está com vazamentos e nós estamos preocupadas. Não é tarefa para uma família cuidar dela, mas para uma instituição.”

Em negociação conduzida pelo Sistema Integrados de Bibliotecas (SIB), a promessa da universidade paulista era fazer o pagamento até dezembro de 2013. Laura Rónai afirma que chegou a enviar à instituição todos os documentos que lhe foram pedidos para concluir a venda.

Com a virada do ano, houve uma troca de comando na reitoria da universidade, agora liderada pelo professor Marco Antonio Zago. Sueli Mara Ferreira, coordenadora do SIB durante a negociação e ligada ao antigo reitor, deixou o cargo com a troca de comando.

Com a mudança, veio a público uma crise nas finanças da USP, que já iniciou uma série de cortes para poder fechar as contas neste ano. Hoje, 99,8% do orçamento da instituição são para pagar a folha dos funcionários – o que fez a universidade congelar novas contratações e projetos em curso. O Museu do Ipiranga, por exemplo, segue fechado e precisando de reformas.

O reitor anterior já havia usado boa parte do chamado “fundo de reserva”, dinheiro da USP investido no mercado financeiro, para tocar obras e projetos. O novo reitor também vai usar essa verba. Depois de cumprir os compromissos deste ano, estima-se que vão sobrar R$ 150 milhões – prejudicando os investimentos futuros. “Falei com o pessoal do SIB, e eles dizem que a negociação continua. Mas não dão prazo para o pagamento. Não quero achar que fui enganada. Era uma promessa de a biblioteca do meu pai ser cuidada como merece”, diz Laura.

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Maurício Meireles, do Globo