Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

‘A Grande Família’ começa a se despedir da televisão

É o começo do fim. Seriado mais longevo da televisão brasileira, A Grande Família inicia nesta quinta, 10, sua 14.ª e última temporada na tela da Globo. O original, de Oduvaldo Vianna Filho, teve menos de um ano de duração e um caráter político que desapareceu no remake. Mas a solidez dos personagens criados por Vianinha deu sustentação a esta longa e segunda versão, enaltecendo o comportamento de uma classe C que ascendeu junto com seus pares na vida real.

“Se você for ver a família no começo do seriado, há 14 anos, parece um retrato das pessoas da classe C como são hoje”, constata Adriana Falcão, redatora que tem 12 dos 14 anos vividos pela Nenê de Marieta Severo e cia. Enquanto a TV, de modo geral, procurava por personagens que gerassem identificação com esse público na tela, o Lineu de Marco Nanini e o Agostinho de Pedro Cardoso já estavam em cena, prontos para receber as benesses da tal nova classe C. “O Agostinho acabou crescendo na vida, virou um empresário”, constata Adriana, que adianta a seguir o que esperar deste último ano.

“O cenário vai mudar. Do lado da casa, vai ter um estacionamento, assim como teve a favela, anos atrás. O subúrbio também mudou muito nesses anos todos. O cenário está acompanhando a mudança social, tudo está mais caótico e a vida da família ficou mais caótica.”

“Depois de 14 anos, a Nenê parece até uma pessoa que a gente conhece proximamente, desde que nasceu. Parece que o Lineu é seu tio, mora aqui em casa, é todo mundo muito próximo”, ela fala. Embora a equipe tenha muito material de acervo para promover sequências de flashback, a temporada da vez se encarregará de produzir imagens que resgatam os anos passados da família Silva. É hora de revelar coisas de um passado que ninguém nunca soube, dos anos de 1974, quando Nenê e Lineu se casaram, e de 94, ambos calendários de Copa do Mundo, como o atual. Atores estão em testes para a escolha de uma Nenê e de um Lineu jovens.

“O casal está 14 anos mais maduro, todos estão, e a gente está fazendo um último ano com as pessoas muito mexidas. O Agostinho tem um enfarte”, adianta Adriana. O fato motiva a volta de Lineu e Nenê da viagem de barco que os dois faziam quando acabou a última temporada.

Último ano

Ao retornar, Nenê encontrará tanta coisa fora da ordem – “até uma porta de armário cai na cabeça dela”, conta a redatora – que acaba ficando em casa. O pequeno Floriano terá repetido de ano, a casa está em frangalhos, Tuco (Lúcio Mauro Filho) está deprimido, e Nenê acabará, mais adiante, se recolhendo no puxadinho ao fundo da casa para repensar a vida. Até uma terapeuta está no script para esta temporada, personagem reservada a Eva Wilma.

“Ao ver aquela confusão toda, Nenê tem uma crise que é típica dessa idade, eu sei porque tenho quase a idade que a Nenê teria”, diz Adriana, admitindo que se identifica muito com a personagem. “Quando as mulheres da minha geração chegam aos 50, além daquela história da síndrome do ninho vazio, tem essa sensação de quem passou a vida cuidando dessa família, e a gente ainda colocava muito a família na frente de tudo.”

Para ela, o sucesso da série é, antes de mais nada, explicado pelo alto nível de identificação que é capaz de gerar na plateia. “São personagens muito ricos, acho que a família brasileira se identifica com aquela família, há muita empatia, mas tem também a excelência do trabalho. Vejo toda a equipe, desde os redatores, com quem tenho uma relação mais próxima, até produção e elenco, muito empenhada, que dá tudo de si. É uma junção de forças positivas.”

E cada cena deste último ano já motiva lágrimas de lá e de cá nos bastidores, como convém a uma grande despedida.

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Cristina Padiglione é colunista do Estado de S. Paulo