Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornais publicam página em preto em protesto contra repressão

Diversos jornais de Mianmar amanheceram com suas primeiras páginas pintadas em preto na sexta-feira [11/4]. A ação em conjunto foi um protesto contra prisões e condenações recentes de jornalistas, em um claro sinal de que o clima tem piorado cada vez mais para a mídia do país.

O último caso de ataque à imprensa foi a condenação, na semana passada, de um jornalista por tentar entrevistar um oficial de Educação. Zaw Pe, do site de notícias Voz Democrática de Mianmar, foi condenado por um tribunal da cidade de Magway por “perturbar um funcionário público” e por invadir uma propriedade. Ele foi preso junto com Win Myint Hlaing, pai de um estudante que o acompanhava durante uma visita ao Departamento de Educação local em 2012. O jornalista escrevia uma matéria sobre o programa de bolsa escolares.

“É inaceitável que oficiais locais possam obstruir o trabalho de um jornalista e o sentenciem à prisão só porque consideram que ele os incomodou”, afirmou Benjamin Ismail, chefe do departamento da organização Repórteres Sem Fronteiras para a Ásia-Pacífico.

Imprensa ainda sofre repressão

O regime militar de Mianmar durou meio século. Uma das maiores reformas desde que o novo governo civil assumiu o poder, em 2011, foi dar liberdade à imprensa. Na prática, porém, observadores da imprensa alegam que jornalistas ainda são intimidados e sofrem com ameaças de prisão e acusações criminais, e que o clima parece estar cada vez pior.

Nos últimos quatro meses, pelo menos seis jornalistas e um executivo-chefe de um jornal foram detidos e acusados criminalmente de violar segredos de estado ou por invasão de propriedade. Dois foram condenados, incluindo um jornalista do influente jornal Daily Eleven, que trabalhava numa pauta sobre corrupção e recebeu sentença de três meses de prisão. O jornal foi um dos que publicaram sua primeira página em preto na semana passada.

Em Berlim para receber um prêmio de direitos humanos, a líder da oposição e Nobel da Paz Aung San Suu Kyi ressaltou que Mianmar “ainda não é uma democracia”. Para ela, é preciso que o mundo olhe para o governo com atenção e questione se ele quer realmente abraçar uma verdadeira democracia ou se pretende ser um estado autoritário disfarçado com uma roupagem democrática. Para atingir a democracia, falta, segundo Suu Kyi, que Mianmar tenha uma constituição democrática e uma mudança de mentalidade entre seus ex-líderes militares.