Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Por uma direita ‘Pondérada’

Um dos assuntos mais comentados na semana foi o polêmico artigo intitulado “Por uma direita festiva“, escrito pelo filósofo Luiz Felipe Pondé em sua coluna na Folha de S.Paulo (21/4/2014). No texto em questão, Pondé assevera que “um dos maiores desafios dos jovens que não são de esquerda é a falta de mulheres jovens, estudantes, que simpatizem com a posição liberal (como se fala no Brasil) ou de direita (quase um xingamento)”.

Segundo o filósofo, os jovens que compõem a “esquerda festiva”, ao contrário dos jovens liberais (eufemismo para direitistas), têm mais facilidade para “pegar” mulheres, pois seus discursos contra as injustiças sociais seriam mais indicadas para atrair o sexo oposto. “Num diretório de ciências sociais no final da noite ou num apê sem pai nem mãe (dela) por perto. Um pouco de vinho barato, quem sabe, um baseado? Um som legal, uma foto grande do Che (aquele assassino chique) na parede”, escreveu Pondé ao imaginar um possível cenário de conquista esquerdista.

Em contrapartida, numa clara atitude misógina, Pondé afirma que os “papos cabeça” dos “jovens liberais”, por serem de difícil entendimento, não atraem a atenção fermina: “quando liberais se reúnem há uma forte escassez de mulheres, o que é sempre um drama”. Segundo o filósofo, os cursos mais procurados pelos jovens liberais – como Economia, Administração de Empresas e Engenharia – têm poucas mulheres e, em contrapartida, nos “cursos de esquerda” – Ciências Sociais, Pedagogia, Letras e Psicologia – há grande presença feminina.

“Grandes pensadores”?

Arriscando-se em preceitos darwinistas, Pondé salienta que “a esquerda festiva (que é quase toda ela) reproduziu porque teve muitas mulheres à mão”. Sendo assim, de acordo com essa linha de pensamento, ser de esquerda é um importante fator para a replicação dos genes. Como nenhum geneticista pensou nisso antes?

Por outro lado, os jovens liberais não precisam mais se preocupar com suas dificuldades afetivas, pois Pondé lançou a cartilha que “ensina” universitários direitistas a pegar mulheres: “O canal para uma direita festiva é: fale de liberdade, do sofrimento humano, de corpo, discuta documentários, diga que a vida não tem sentido, mas que a beleza existe, […] não fale de economia. As meninas destetam economia, essa ‘ciência triste’, porque atrapalha a alegria da vida.”

Numa época de pouca originalidade filosófica, Pondé, em um pequeno artigo, “produziu” duas novas teses. A primeira afirma que o maior desafio para um jovem estudante liberal no Brasil é “pegar” mulher no meio acadêmico e a segunda tese aponta que jovens universitários tenderiam a ter posições políticas de esquerda, pois essa seria uma maneira mais fácil de conquistar parceiros do sexo oposto. Genial!

Diante dos últimos artigos dos intelectuais midiáticos neocons como Pondé, talvez não seja tão exagerado qualificar a cantora Valesca Popozuda como “grande pensadora contemporânea”. Seria cômico se não fosse trágico.

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Francisco Fernandes Ladeira é especialista em Ciências Humanas: Brasil, Estado e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e professor de Geografia em Barbacena, MG