“Brooklyn Nine-Nine” ainda estava no meio da sua primeira temporada quando ganhou, em janeiro de 2014, o Globo de Ouro de melhor série, categoria comédia, superando as veteranas “The Big Bang Theory”, “Parks and Recreation” e “Modern Family”, além de “Girls”, que havia vencido no ano anterior.
A série, da Fox, começou a ser exibida no Brasil em abril pelo canal TBS. Os capítulos originais são apresentados em versão dublada –política adotada cada vez com maior frequência diante da expansão da base de assinantes da TV paga no país.
“Brooklyn Nine-Nine” se passa em um distrito policial de Nova York e gira em torno do detetive Jake Peralta, um tipo tão eficiente quanto atrapalhado. O personagem é vivido por Andy Samberg, que fez uma bem-sucedida carreira no “Saturday Night Live”.
A série tem dois alvos. Um, mais evidente, é a própria polícia. O tal Distrito 99 é um antro de policiais folgados, debochados e desanimados, até que chega para colocar ordem um novo comandante, um policial negro e homossexual assumido.
O segundo alvo, mais interessante, é o universo da própria televisão. Ainda que não explicite isso, “Brooklyn Nine-Nine” faz piada de todo um gênero, clássico na TV americana, os dramas policiais ambientados em delegacias.
Novos tempos
Uma segunda novidade em matéria de comédia é a série “Silicon Valley”, lançada pela HBO em abril (com exibição quase simultânea no Brasil). Como o título anuncia explicitamente, o programa busca rir dos tipos que gravitam em torno do mundo das empresas de tecnologia no Vale do Silício, na Califórnia.
Criada por Mike Judge (o mesmo de “Beavis and Butt-Head” e do filme “Idiocracia”), “Silicon Valley” é bem mais sofisticada e irônica do que muitas outras que fazem graça do universo dos “nerds” (como “The Big Bang Theory”, por exemplo).
Algumas piadas podem não fazer sentido se o espectador ignora detalhes das histórias de gênios que se tornaram empreendedores, como Steve Jobs ou Mark Zuckerberg, tão visionários quanto desastrados em seus negócios.
Talvez por isso a HBO tenha feito uma aposta inicial modesta, de apenas oito episódios, mas já encomendou uma segunda temporada.
Uma terceira novidade em matéria de comédia é brasileira. O programa “Tá no Ar”, criado por Marcius Melhem e Marcelo Adnet, estreou na Globo em abril com o objetivo de rir do universo da própria TV.
Com inteligência e muito bom humor, a atração faz paródia de diferentes gêneros de programas exibidos na TV, assim como de figuras conhecidas do meio, campanhas publicitárias e emissoras, incluindo naturalmente a própria Globo.
É curioso observar que o impacto do programa está ocorrendo por razões que vão além das suas muitas qualidades. Assim que “Tá no Ar” estreou, o humorista Claudio Manoel, um dos criadores do “TV Pirata” (1988-90 e 1992) e do “Casseta & Planeta Urgente” (1992-2010), lembrou que por anos a Globo proibiu menções nos programas humorísticos a marcas de produtos e a atrações de emissoras concorrentes.
“Tá no Ar” simbolizaria, segundo esta visão, uma espécie de “glasnost” –o anúncio de uma abertura a novos tempos na Globo. Uma prova de que humor pode ser uma coisa séria.
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Mauricio Stycer, da Folha de S.Paulo