Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Cinco provas que nada provam

O jornalista científico Salvador Nogueira assina a coluna “Mensageiro Sideral” na Folha de S.Paulo, e em seu texto “Cinco provas da evolução das espécies“ ele foi realmente estratosférico: passou longe de provar aquela que é considerada por muitos a teoria mais controversa de nosso tempo. O título de seu artigo é simplesmente absurdo, porque a teoria da evolução não pode ser “provada” em tudo aquilo que ela afirma. É, para dizer o mínimo, ufanista, panfletário e leviano. Antes de tratar das tais “provas”, Nogueira faz uma exposição das diferenças entre ciência e religião. Portanto, antes de falar sobre as “provas” apresentadas, vou comentar a introdução do texto do meu colega de profissão.

Ele escreveu:

“Este é um assunto dos mais controversos: a origem das espécies, desde as bactérias mais simples até os orgulhosos seres humanos [note que ele já assume a macroevolução como fato]. A razão básica da confusão é que algumas pessoas querem fazer crer que existe um conflito intrínseco entre a teoria da evolução pela seleção natural e as religiões. É mentira. A ciência, aliás, não é inimiga da religião. As duas são naturalmente complementares, e existe beleza no equilíbrio.”

Aqui Nogueira comete o erro básico (se intencional, não sei) de confundir ciência com evolucionismo e opô-los à religião. Método científico é uma coisa, teoria da evolução é outra. Com o método, a teologia bíblica está em pleno acordo. Com a macroevolução, não. Os evolucionistas até podem se valer do método científico para validar algumas de suas afirmações, mas não todas. Há aspectos do evolucionismo que estão relacionados com as ciências históricas e outros que são pura hipótese mesmo, como a origem da vida a partir da não vida, ou a macroevolução e o surgimento e o aumento da informação genética. Não há absolutamente prova alguma dessas coisas. Apenas conjecturas e cenários imaginários.

O jornalista prossegue:

“Uma diferença importante entre elas é que a ciência, por sua própria natureza, se propõe a estabelecer (tanto quanto possível) fatos objetivos. Já a religião fala de ‘verdades’ pessoais. Por isso cada um de nós pode ter suas próprias crenças, mas temos todos em comum uma única ciência. E também é por isso que neste texto, daqui em diante, vamos discutir apenas ciência.”

Tudo muito bonito, se fosse assim tão simples. Cientistas (e não a ciência) até se propõem a “estabelecer fatos objetivos”, mas eles são seres humanos e, portanto, carregados de subjetividades e interpretações não tão objetivas. É lógico que o método científico é o melhor que temos para compreender a realidade (física) que nos cerca, mas não podemos ser assim tão ufanistas a ponto de achar que ele é a única ferramenta disponível para isso. A realidade é muito mais ampla do que nossos microscópios e telescópios podem alcançar.

Observações e experimentos

Nogueira também erra ao dizer que “a religião fala de ‘verdades’ pessoais”. Falo pela religião cristã: ela é muito mais do que uma experiência pessoal (embora também seja isso). O cristianismo é uma religião racional e razoável, cujo livro sagrado tem resistido ao teste do tempo e contado com inúmeras confirmações por parte da arqueologia. O pano de fundo histórico da Bíblia e vários de seus personagens têm sido confirmados ano após ano, descoberta após descoberta (confira aqui). Há várias antecipações científicas nas páginas das Escrituras e a própria ressurreição de Cristo pode ser encarada como evento histórico (confira). É claro que “cada um de nós pode ter suas próprias crenças”, mas, se quiser ser honesto (ou seja, não estiver em busca de uma religião de conveniências), deverá procurar a religião que compatibiliza fé e razão, afinal, o Deus bíblico não é irrazoável.

Depois de usar o fenômeno da chuva como exemplo, Nogueira conclui: “Grosso modo, a confirmação de nossa hipótese a converte em teoria. Ela não é mais só um exercício racional de adivinhação. Ela é uma explicação concreta que nos permite compreender e até mesmo prever fenômenos.”

Mas, se a intenção foi comparar isso com a teoria da macroevolução, o jornalista forçou a barra. A chuva é um fenômeno perfeitamente observável em qualquer lugar do mundo, em qualquer época. Ao contrário, hipóteses como a origem não biótica da vida e a macroevolução não podem ser observadas pelo simples fato de que hipoteticamente levam bilhões de anos para se processar. Tudo o que temos são exemplos de “microevolução” ou diversificação de baixo nível. O resto é extrapolação, usando o tempo como resposta. Seria mais ou menos como estudar uma molécula de água e querer determinar a partir disso como ocorrem as chuvas.

Para Nogueira, “é de uma desonestidade intelectual profunda acusar a evolução pela seleção natural de ser ‘apenas uma teoria’. Em ciência, uma teoria é o máximo que uma ideia pode chegar a ser. E ela atinge esse ponto só depois que foi corroborada por observações e experimentos. Só depois que ela se mostra a melhor explicação possível para um certo conjunto de dados”.

A palavra “prova”

E ele está certo, em parte. Argumentar que a evolução é “apenas uma teoria” e tentar desacreditá-la por causa disso é ignorar o fato de que existe também uma teoria da gravidade, por exemplo. A atração dos corpos é descrita pela Lei da Gravidade e possui uma equação universal que calcula a força de atração. A Teoria da Gravidade é mais complexa do que isso. Ela tenta explicar por que essa atração ocorre. Quando pedimos a um evolucionista “provas” da evolução, ele geralmente se refere às evidências de “microevolução”, como a diversificação morfológica de animais como os tentilhões e as mudanças limitadas nas bactérias que adquirem resistência a antibióticos. Jamais se responde como e/ou por que a evolução teria ocorrido ou como a vida teria surgido a partir da não vida. Isso se assume como fato, a priori, metafisicamente.

Prevendo a oposição ao uso da palavra “prova”, Nogueira já se justifica logo de início: “Os mais atentos talvez queiram criticar meu uso da expressão ‘provas’, lembrando o filósofo da ciência Karl Popper, que sugere que observações só podem refutar teorias, mas nunca prová-las. Concordo com Popper. Mas uso aqui o termo ‘provas’ no sentido jurídico. Imagine que estamos num tribunal, que julgará a veracidade da teoria da evolução. O Mensageiro Sideral se apresenta como promotor, apontando provas circunstanciais conclusivas.”

Eu não diria os “mais atentos”, mas os mais honestos. Nogueira começa falando em ciência e muda para o contexto jurídico. Isso não me parece honesto porque, como jornalista, ele sabe que o título de seu texto e o uso da palavra “prova” induz os leitores a pensar exatamente o que ele quer. É controle de opinião. Por mais que ele tente se justificar dizendo que usa a palavra “prova” “no sentido jurídico”, o leitor menos atento ou desavisado vai ler as cinco “provas” pensando que elas são exatamente isso, e não tentativas de argumentação em favor de uma hipótese que deveria ser confirmada pelos fatos, e não julgada em um “tribunal”. Mas vamos, finalmente, aos fatos de Nogueira, com meus comentários entre colchetes.

Reflexões sobre os tentilhões

Antes de mais nada, o que é a teoria da evolução?

“Formulada por Charles Darwin e Alfred Russel Wallace independentemente e apresentada em 1858, ela parte de pressupostos simples e incontestáveis. A primeira premissa é que os seres vivos de uma determinada espécie, por mais parecidos que sejam, apresentam, naturalmente, pequenas diferenças entre si. Isso é mais do que evidente. Basta olhar ao seu redor. Somos todos humanos, mas cada um é um pouquinho diferente do outro. Um mais baixo, um mais alto, um loiro, um moreno, e assim por diante.

A segunda premissa é que os seres vivos podem transmitir essas pequenas diferenças que os caracterizam a seus descendentes. E isso também é mais do que evidente. Por isso filhos de morenos são morenos, filhos de altos são altos, e por aí vai.

A terceira – e crucial – premissa é que, no mundo natural, algumas características são mais vantajosas que outras. Hoje, na população humana, isso não é muito evidente. Mas ainda acontece. Um exemplo: um pequeno número de pessoas na África parece ser imune ao HIV. Muitos esforços têm sido feitos pelos médicos para reduzir o impacto que o vírus da Aids tem na mortalidade humana, mas imagine um mundo sem medicamentos. O que aconteceria na África? Os que não resistem ao HIV morreriam, em muitos casos sem deixar descendentes. Os imunes sobreviveriam e teriam mais filhos. Ao longo das gerações, aumentaria a porcentagem de pessoas com imunidade natural ao HIV. Isso é seleção natural. É a pressão que a natureza exerce para selecionar certas características e eliminar outras.

Pois bem. Até aí, absolutamente nada de controverso. O salto que Darwin e Wallace deram foi partir dessas premissas e concluir que, ao longo de períodos muito grandes de tempo, esse processo de seleção natural poderia produzir novas espécies a partir de um ancestral comum. Como eles chegaram a essa conclusão? Observando o mundo natural. Note, por exemplo, o clássico exemplo apresentado pelo próprio Darwin, ao refletir sobre os tentilhões – grupo de espécies de pássaro – das ilhas Galápagos, que o naturalista estudou pessoalmente ao passar pela América do Sul, em 1835. Ele notou que cada ilha do arquipélago tinha suas próprias espécies de tentilhões, cada uma com um formato de bico próprio.

Como explicar isso? Darwin imaginou que todos eles tinham um ancestral comum. Separados em suas respectivas ilhas, eles enfrentaram ambientes naturais ligeiramente diferentes, que por sua vez selecionariam características diversas. Ao fim de milhões de anos, terminamos com espécies diferentes de tentilhão.”

[Evidentemente que as três premissas apresentadas acima são fatuais e qualquer criacionista as aceita tranquilamente. A argumentação vai parecer lógica porque começa com fatos observáveis e corretos. Ocorre que um detalhe muitas vezes passa despercebido: depois de supostos milhões de anos de evolução, os tentilhões continuaram sendo tentilhões. Não surgiu em qualquer ilha um tipo de pássaro totalmente diferente; um papagaio, por exemplo. O mesmo tipo de conclusão pode ser tirado a partir das pesquisas com as moscas-das-frutas. Por favor, tome algum tempo para ler esta postagem. Quanto aos africanos resistentes ao HIV, se o mundo e a raça humana durassem milhões de anos, certamente os cientistas do futuro se deparariam com uma população inteira resistente ao vírus da Aids, mas todos eles continuariam sendo humanos. Adaptação não é macroevolução. Resistência a um tipo de vírus e mudança de cor da pele/plumas não explicam de onde teria surgido a informação genética necessária para originar uma pata onde antes havia uma nadadeira ou um olho onde antes não havia nada.]

“O mesmo raciocínio pode ser aplicado a toda a vida na Terra, e foi o que Darwin e Wallace fizeram. Se imaginarmos [e aqui o “fato” vira imaginação, o que é típico] que todos os seres vivos atuais têm um ancestral comum separado de nós por cerca de 4 bilhões de anos de seleção natural, temos uma explicação [explicação?] para a origem de todas as espécies. Uma explicação que é passível de teste. E que foi testada e corroborada de forma contundente, como veremos a seguir [quero ver mesmo].

Um senão importante é que a teoria diz respeito exclusivamente à origem das espécies. Ou seja, como, a partir de uma única forma de vida, acabamos com uma biosfera tão incrível e diversa como a nossa. A teoria nada fala sobre a origem da vida em si. Como o primeiro ser vivo submetido ao processo de seleção natural veio a ser é outro mistério, um que ainda não tem uma solução científica clara (embora diversos caminhos promissores já se insinuem a esse respeito) [a velha desculpa de sempre…].”

Prova número um – o DNA

“Manja teste de DNA, aquele usado corriqueiramente para determinar paternidade de bebês? Você acredita nele? Pois bem. Hoje temos tecnologia para comparar o DNA não só de humanos diferentes, mas de diversas espécies diferentes. Essa análise revela que todos os seres vivos que já investigamos têm algum grau de parentesco com todos os demais. Trata-se de uma confirmação incrível da teoria da evolução pela seleção natural. Tão contundente como um teste de paternidade diante de um juiz de família.”

[A semelhança genética pode ser interpretada também como a marca/assinatura do Criador e não necessariamente como evidência de ancestralidade comum. Assim como as semelhanças entre um carro, um trem e um avião não revelam ancestralidade comum entre eles. O problema é que os evolucionistas sempre focalizam as semelhanças e minimizam as tremendas diferenças.]

“Se olharmos para o DNA humano e compararmos com o do chimpanzé, descobrimos que a diferença entre eles é de cerca de 4%. Ou seja, a receita para a fabricação de um chimpanzé é, em 96%, idêntica à que produz um ser humano. O que isso significa, que nós evoluímos dos macacos? Claro que não! A afirmação de que o homem veio do chimpanzé está errada. Tanto o homem como o chimpanzé evoluíram de um ancestral comum, que não era nem uma coisa, nem outra.” [Essa falácia também já foi desconstruída. Confira aqui.]

Prova número dois – mutações

“Hoje conhecemos bem os mecanismos que existem no interior de cada célula para replicar o DNA [mecanismos tão finamente ajustados, dependentes de máquinas moleculares – nanotecnologia! – e processos ultraprecisos com reparação de erros, inclusive, que fica muito difícil entender como, a partir do rudimentar, essas coisas teriam vindo paulatinamente à existência, se a vida depende delas desde o início exatamente como são; depende dessa complexidade que não pode ser menor, caso contrário, a vida desandaria]. Há um sistema integrado de monitoramento e correção que tenta identificar falhas na replicação e impedir que elas se perpetuem – se preciso for, induzindo o próprio suicídio celular [e como a célula “se virava” antes da existência desse mecanismo?]. No entanto, sabemos também que esse sistema não é à prova de falha. De vez em quando, pequenas mudanças passam. Acontece direto. Nas suas células. Agora. Na maior parte das vezes, ocorre em trechos do DNA que não codificam informação genética, e aí pode não haver consequência nenhuma. Se acontecem num pedaço de DNA que tem informação importante, podem produzir efeitos bem sérios. Na maior parte das vezes, esses efeitos são ruins – o câncer é resultado de mutações em células, alterações que atingem justamente o sistema que induz ao suicídio celular quando há falhas de replicação do DNA. As células saem de controle e se multiplicam sem parar, às custas do resto do organismo. Contudo, em alguns casos, as mutações podem produzir manifestações que não incapacitam a pessoa. E, claro, quando acontecem nas células germinativas, precursoras de espermatozoides e óvulos, elas não afetam o sujeito em si, mas afetarão a geração seguinte – para o bem ou para o mal.”

[Mutações benéficas não significam mutações que adicionem informação ao organismo. Isso não existe. As mutações ou são deletérias ou, no máximo, conservativas, promovendo apenas modificações. Isso não explica, repito, o surgimento de novos órgãos funcionais, nem mesmo novos planos corporais. Mutações casuais não podem explicar nem mesmo o surgimento de espermatozoides e óvulos, que dependem de hormônios específicos, órgãos sexuais distintos e até mesmo de motores moleculares (como no caso do espermatozoide), tudo isso – e muito mais – funcionando bem e ao mesmo tempo. Mas tem mais: precisariam ter ocorrido no mesmo tempo e na mesma região (a fim de que macho e fêmea pudessem se encontrar) mutações que dessem origem a órgãos sexuais distintos e compatíveis, a células germinativas distintas e compatíveis, a hormônios distintos com funções distintas, e a um organismo (feminino) proveniente de outras tantas mutações que o teriam tornado capaz de abrigar a nova vida (não a expelindo, como seria de esperar pela atuação do sistema de defesa também originado a partir de muitas mutações), com deslocamento de órgãos internos, mecanismos de manutenção da vida intrauterina e adaptações musculares e até ósseas que permitiriam a “expulsão” do bebê quando completamente formado. Mas Nogueira (e os evolucionistas) “resolvem” tudo isso com um simples “mutações podem produzir”. Sinceramente, não tenho tanta fé assim!]

Mais declaração de fé: “Sabendo que isso [mudanças] acontece e que a vida tem quase 4 bilhões de anos na Terra, o difícil é inventar um mecanismo que impeça a evolução. É muito mais complicado termos espécies estáticas, imutáveis, do que espécies em eterna transmutação ao longo das eras geológicas, movidas por mudanças pequenas e graduais.”

[Se essa foi uma crítica discreta ao fixismo – doutrina segundo a qual as espécies não mudam e seriam as mesmas do Gênesis até hoje –, Nogueira está correto, mas erra ao pensar (se pensa isso) que os criacionistas bem informados creem nessa ficção. Repito: criacionistas aceitam as diversificações de baixo nível, mas não concordam com as extrapolações hipotéticas usadas para justificar a macroevolução. No parágrafo acima, Nogueira deixa mais uma vez claro que o deus da teoria da macroevolução é o tempo.]

Prova número três – fósseis

“Na época de Darwin, os fósseis já estavam na moda, embora fossem poucos e incompreendidos. Foi justamente naquele tempo que começaram a ser identificados os primeiros dinossauros. Sabemos hoje com base em evidências geológicas concretas que eles viveram entre 230 milhões e 65 milhões de anos atrás [evidências também passíveis de interpretação, afinal, já foram até encontrados tecidos moles de T-Rexe ovos de dinossauro com proteína identificável]. E uma olhada neles revela o que a evolução é capaz de fazer ao longo de períodos imensos de tempo.

“Sabemos, por exemplo, que as aves modernas têm como ancestrais dinossauros terópodes. E como podemos saber disso? Além de observarmos características similares entre os ossos de um grupo e de outro, há algumas espécies extintas que parecem uma exata mistura dos dois. Pegue o arqueoptérix, por exemplo, que viveu cerca de 150 milhões de anos atrás. Ele é metade ave, com penas capazes de voo e asas, e metade dinossauro, com dentes e tudo. Tanto dinossauros como aves são as únicas criaturas que têm aquele famoso ‘ossinho da sorte’. E uma análise de proteínas remanescentes de uma coxa de tiranossauro mostrou em 2005 que o colágeno dos músculos do bichão é muito parecido com o das galinhas modernas. São provas incontestes do processo evolutivo.”

[Um ossinho e semelhança entre colágeno são “provas incontestes”? Puxa vida! A vagina e os tubarões também guardam um tipo de semelhança assim, sabia? (confira) O que dizer disso? Muitos animais de espécies totalmente diferentes guardam semelhanças interessantes. Pense no ornitorrinco. Quanto aos dinossauros, a verdade é que se sabe muito pouco sobre eles, conforme se admite nesta pesquisa. Sobre a suposta evolução das aves a partir dos dinos, você pode ler algo aqui, aqui e aqui; e sobre o arqueoptérix, aqui e aqui.]

“E toda a árvore da vida está cheia dessas formas intermediárias, hoje extintas [não, a “árvore da vida” de Darwin vem contando outra história]. Diversos hominídeos descobertos mostram um aumento crescente da caixa craniana de nossos ancestrais [o neandertal tido como nosso primo ancestral tinha caixa craniana maior que a nossa. E mesmo entre populações e indivíduos contemporâneos as dimensões do crânio variam bastante]. Obviamente, aumento de cérebro (e de inteligência) foi favorecido pela seleção natural, o que explica o processo.” [Não me parece algo tão óbvio assim.]

[O fato é que, se a teoria da evolução fosse real, deveria haver milhões de elos transicionais no registro fóssil, como esperava Darwin. Mas essa não parece ser a realidade, afinal, quando analisamos esse registro, podemos identificar claramente plantas, peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos. Nada de elos entre esses grandes grupos, apenas variações entre eles, conforme prevê o criacionismo.]

Prova número quatro – comportamento animal

“Os etólogos (estudiosos do comportamento animal) encontram cada vez mais evidências de que muitos dos atributos originalmente concedidos só aos humanos estão presentes no reino animal. Veja os chimpanzés mesmo. Eles são menos espertos que os humanos, fato, mas ainda assim são bem espertos. E fazem coisas que, até outro dia, achávamos que fossem exclusividades nossas. Chimpanzés não falam, mas são capazes de aprender linguagem de sinais e conseguem comunicar ideias simples. Constroem e usam ferramentas rudimentares. Seu nível de inteligência para o uso de ferramentas é comparável ao de uma criança de cinco anos! Gostam de montar quebra-cabeças só por diversão, como nós. Conseguem contar até 40 e fazer operações aritméticas simples. E são capazes de algum nível de empatia. Não são animais estúpidos. São mais parecidos conosco do que gostaríamos de admitir. Não há vergonha nenhuma em ser primo dos chimpanzés. Apesar daquela mania horrível de jogar cocô nos outros, eles são legais e representam nosso elo mais próximo na imensa corrente da vida na Terra.”

[O que dizer da capacidade de compor sinfonias, construir naves espaciais, estudar bioquímica e biologia molecular, ter senso de transcendência e noção de passado e futuro, além de espiritualidade? Como disse antes, é preciso focalizar mais as diferenças do que as semelhanças. O que os evolucionistas sempre tentam fazer é humanizar o macaco e macaquizar o ser humano.]

Prova número cinco – pseudogenes

“Em meio ao DNA dos mais de 7 bilhões de humanos, existem pedaços de genes de nossos ancestrais comuns, inativos, mas ainda lá. […] Especula-se que genes inativos possam, com novas mutações, tornarem-se ativos novamente, produzindo características novas que se submetam à seleção natural [mais especulação… Aliás, o que aconteceu com o chamado “DNA lixo”deveria inspirar cautela nos cientistas].

“Os cientistas mais ousados, por exemplo, especulam sobre a possibilidade de reconstruir os genomas de dinossauros extintos ‘pescando’ pseudogenes em seus descendentes – as aves modernas – e reativando-os [mas como saber que pseudogenes são esses?]. Difícil? Sem dúvida. Talvez até impossível para essas criaturas, que sumiram há 65 milhões de anos [segundo a cronologia evolucionista]. Mas pode ser uma estratégia viável para trazer os mamutes, extintos há 12 mil anos, de volta à vida. São incríveis perspectivas que só se abrem porque a evolução é um fato.”

[Eita! Teoricamente, existem em aves e existiram (como sabem?) em dinossauros genes semelhantes e inativos. E há mamutes cuja carcaça foi preservada no gelo, o que torna sua clonagem, em tese, possível. Uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas ambas provam a evolução! Por que a possível clonagem de mamutes seria uma “prova” da evolução?]

O resumo da ópera

“Como se pode ver, a evolução por seleção natural é uma teoria que explica muita coisa [essa é a conclusão de um jornalista que já apresentou sua tese no título da matéria]. Ela poderia ser superada por outro paradigma científico no futuro? Em tese sim. Mas onde está esse paradigma?”

[Não precisa realmente haver um novo paradigma (embora haja rumores de uma nova teoria da evolução não selecionista em gestação…) para explicar a biodiversidade. A seleção natural explica bem isso. Explica como o mais apto sobreviveu, mas nada diz sobre como ele surgiu. E, curiosamente, o livro do incensado Darwin tem como título (resumido) não A Sobrevivência das Espécies, nem A Variação das Espécies, mas A Origem das Espécies.]

“Alguns dizem que a melhor explicação para a diversidade da vida seja o que eles chamam de Design Inteligente – a ideia de que a vida é sofisticada demais para que suas incríveis nuances fossem produzidas pela seleção natural, e que somente uma consciência superior poderia ter produzido os seres vivos terrestres, individualmente, espécie por espécie.”

[Ele está certo: o Design Inteligente não explica nada nessa questão de origem e evolução da vida – afirma unicamente que há sinais de inteligência empiricamente detectados na natureza. Quanto às provas da evolução, o jornalista está inferindo além das evidências encontradas no contexto de justificação teórica.]

“Se o Design Inteligente estiver certo, não devemos encontrar parentesco claro entre todas as espécies estudadas ao investigar seu DNA. Afinal de contas, se cada uma delas foi individualmente projetada por uma inteligência superior, não haveria razão para termos, por exemplo, distribuição similar dos genes pelos cromossomos em diferentes espécies. Aliás, deveríamos encontrar distribuições bem diferentes, otimizadas para cada forma de vida. Não é o que vemos.”

[E quem disse que, se o Criador – Designer – existe, Ele não poderia ter usado recursos criativos semelhantes em tipos de vida diferentes. É uma questão de interpretação: onde o evolucionista vê ancestralidade comum, o criacionista vê a assinatura do Artista.]

Para desmerecer o design inteligente do ser humano, Nogueira diz que “nós, humanos, supostamente o suprassumo, temos um apêndice, cuja única função parece ser causar apendicite, e os dentes do siso, que precisam ser extraídos na maior parte de nós porque não nos cabem na boca. Que diabo de projeto inteligente é esse? Por que temos órgãos vestigiais? Por que o Designer se deu ao trabalho de disfarçar toda a biosfera para fazer de conta que ela evoluiu, se esse não foi o caso?”

[Lá vem ele com essa velha história de “órgão vestigial”! No passado, achava-se que tivéssemos centenas desses “órgãos vestigiais”. Hoje há poucos considerados assim. Mesmo o apêndice se sabe que tem função, e em herbívoros como os ruminantes ele é até indispensável. Será que não foi assim em nós também, numa época em que nossa dieta era inteiramente vegetariana? E quanto ao dente do siso, isso revela simplesmente que nossa arcada dentária está diminuindo – logo, no passado, ela tinha o tamanho ideal para comportar todos os dentes. E quem disse que o culpado por esses problemas é o Designer? E se houver outra explicação para esses defeitos e problemas? Uma explicação histórico/teológica ignorada pelos evolucionistas?]

“Deixo, afinal, uma pergunta para reflexão. Qual é o Designer mais inteligente: aquele que constrói um relógio automático, liga-o e vê, satisfeito, como cada ponteiro avança sozinho no momento preciso para marcar o tempo, ou aquele que constrói um relógio e fica, em sua paciência infinita, empurrando os ponteiros com o dedo a cada segundo para mantê-lo sempre marcando a hora certa?”

[Essa é uma questão que renderia muitas e muitas páginas de discussão e que foge ao escopo desta análise, mas acabamos por descobrir que, além de ultradarwinista, Nogueira parece ser, também, um deísta.]

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Michelson Borges é jornalista