Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A ‘nova’ política e as velhas práticas

Eduardo Campos, presidente do PSB, candidato à presidência no próximo pleito, ex­ministro de Ciência e Tecnologia do governo Lula e ex­governador do estado de Pernambuco, se apoia num discurso de campanha no qual se apresenta, na chapa com Marina Silva, como alguém que faz a “nova política”. Essa expressão passa a impressão de práticas guiadas por princípios, no lugar do pragmatismo eleitoreiro que visa a mais cargos, mais poder.

Porém, um exame mais apurado e atencioso da movimentação do pessebista põe em xeque as alegações de renovação. Campos dá a impressão de ainda não ter achado uma via entre as polarizadas candidaturas de Dilma e Aécio e sinaliza diversas vezes à direita do atual governo.

Examinemos, então, alguns rumos deste candidato. Em 21/4, Campos foi entrevistado pela publicação norte­americana Wall Street Journal, vinculada ao setor financeiro de Nova York. Nela, além de alegar ser partidário de uma “revisão” do atual modelo da Petrobras, se posiciona favorável à independência do Banco Central. Na revisão de nossa maior estatal que Campos propõe não se fala propriamente em privatização, mas de afastá­la de influências políticas. Quanto ao Bacen, a proposta de torná­lo independente constitui claro favorecimento aos bancos privados internacionais, que usam o discurso tecnocrata neoliberal da economia pura – uma falácia, tendo em vista que decisões econômicas sempre adentram a esfera política.

A fragilidade da propaganda

Ainda no campo econômico e tocando num assunto mais palpável ao cotidiano da sociedade, a inflação, constatamos que em entrevista ao programa “Poder e Política”, gravado no dia 29 de abril, o herdeiro de Miguel Arraes defendeu uma meta de inflação de 3% ao ano. É ponto comum que a inflação é um incômodo a qualquer economia, mas, indo mais a fundo no tópico, nota­se que para uma inflação desta magnitude medidas recessivas teriam de ser adotadas, o que seria sentido no aumento do desemprego.

Passemos agora para o campo político, atentemos às práticas internas do partido e às alianças regionais que o PSB tem firmado. Campos tem dito reiteradamente que Dilma não consegue dar prosseguimento aos avanços da gestão Lula, que o atual governo retrocede em relação ao anterior. Encampa, portanto, uma alegada volta ao lulismo, o que também não resiste à análise.

Em Pernambuco, que, como dito anteriormente, já foi governado pelo próprio Campos, o PSB se aliou a legendas contraditórias, como PSDB e DEM. No Espírito Santo, os pessebistas se aproximam também dos tucanos em torno da candidatura ao governo do estado. A Tribuna (14/6) noticia que o candidato ao Senado, Luiz Paulo Vellozo, do PSDB, definiu a conversa em torno desta aliança “está muito avançada”. Indo um pouco mais ao sul, chegando a São Paulo, o PSB se aliou à candidatura do controverso e autocrático Geraldo Alckmin (PSDB) o que fez até mesmo o porta­voz nacional da Rede, Walter Feldman, dizer que essa medida assemelha Campos ainda mais a Aécio.

Por fim temos a retirada da candidatura da prima de Eduardo, a vereadora do Recife, Marília Arraes. Em 6/6, quando anunciou que desistia do pleito ao cargo de deputada estadual, Marília alegou que o partido presidido por Campos se movimenta em oposição à democracia e que “existe uma tendência à imposição de ideias em lugar do diálogo”.

Os fatos aqui listados demonstram a fragilidade da propaganda pessebista que tenta se distanciar da velha política. Os alinhamentos a setores reacionários, as medidas impopulares propostas e as práticas opostas à democracia sinalizam um candidato que se opõe aos anseios nacionais de ampliação da participação política e da inclusão social.

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Rennan Martins é blogueiro, Brasília, DF; http://www.desenvolvimentistas.com.br/blog/