Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Band transfere 400 torres à Highline

O Grupo Bandeirantes vai transferir toda sua infraestrutura de transmissão de rádio e televisão, constituída por 400 torres, para a recém-criada Highline Broadcast, que vai gerir e alugar esses recursos para a emissora e outras empresas do setor. O modelo, comum entre operadoras de telefonia, é inédito entre grupos de mídia no Brasil.

Com o acordo, a Band passará a se concentrar em sua atividade principal – a geração de conteúdo audiovisual – e deixará de cuidar da operação e manutenção das torres. A emissora também evitará os pesados investimentos necessários à expansão da TV digital no país.

Além de economizar recursos, a Band vê uma oportunidade de negócio com a operação. O grupo terá 40% na Highline Broadcast. Os 60% restantes e a gestão da companhia ficarão com a Highline, empresa criada há dois anos pelo fundo de private equity P2 Brasil para operar torres de telefonia móvel.

“O acordo é interessante porque alavanca um ativo importante que o grupo tinha”, afirma Antonino Ruggiero, vice-presidente do Grupo Bandeirantes. “Um patrimônio que era gerido como custo agora passa a ser uma oportunidade de receita.”

O objetivo é alugar a infraestrutura a outras emissoras de rádio e televisão e também às operadoras de telefonia. “Vamos oferecer o compartilhamento dessas torres e assumir a construção a rede necessária para a TV digital”, diz Alexandre Braga, presidente da Highline.

Uso compartilhado

Nem a Band nem o P2 Brasil – associação entre a gestora Pátria e a Promon – revelam o investimento feito na criação da Highline Broadcast. A emissora entrou no capital da empresa por meio da cessão dos ativos. Considerando que cada torre de telefonia custa cerca de R$ 300 mil, a infraestrutura da Band valeria aproximadamente R$ 120 milhões menos a amortização.

O acordo vem num momento em que a Band tenta melhorar seu perfil financeiro. Desde o fim da semana passada, o grupo promove uma série de apresentações a investidores no Chile, nos Estados Unidos e na Europa com o objetivo de fazer uma emissão de bônus no exterior para captar US$ 200 milhões. A operação, se concluída, pode marcar uma retomada das emissões de bônus do grupo. Em 2002, quando as cotações do dólar dispararam, a Band atrasou o pagamento e teve de propor uma renegociação de sua dívida externa. Desde então, só acessou o mercado internacional para tomar empréstimos, segundo o Valor Data.

Em 2013, a Rádio e Televisão Bandeirantes teve receita líquida de R$ 1,08 bilhão e prejuízo de R$ 20,8 milhões. A dívida líquida somava R$ 572,5 milhões.

Até o fim deste ano, a Band espera transferir cem torres à Highline Broadcast. O restante será cedido ao longo de 2015. O processo é demorado porque requer uma espécie de auditoria de cada torre, diz Ruggiero. “O grande custo da TV digital não é a produção, mas a infraestrutura. Com o acordo, vamos focar mais em nossa atividade principal e concentrar o capital nos investimentos em conteúdo”, diz ele, que antes da Band fez carreira no setor de telefonia.

Embora a Band tenha participação acionária na nova empresa, a emissora não terá ingerência na operação. A gestão do negócio será feita pela Highline, afirma Braga. Dessa forma, os sócios esperam atrair o interesse de outras companhias do setor no compartilhamento da infraestrutura.

Estima-se que uma torre compartilhada entre duas emissoras implique uma redução de custos de 30% para cada uma. A lógica é que, quanto mais empresas usarem a mesma infraestrutura, menores os custos individuais.

Não deixa de ser um apelo relevante, tendo em vista o volume de recursos que terá de ser empenhado pelas emissoras na implementação da TV digital. O sistema analógico começa a ser gradualmente desativado a partir de 2015.

Por causa da faixa de frequência que ocupa, a TV digital requer um número de torres cinco vezes maior que o sistema analógico. Há hoje cerca de 5 mil torres de radiodifusão no país, serão necessários investimentos de mais de R$ 5 bilhões ao longo dos próximos anos para implantar todo o parque necessário à operação digital.

A ideia é oferecer o uso compartilhado das torres da Band e da infraestrutura que a Highline já tem, composta de mais de 300 “sites” (torres e antenas no topo de edifícios, por exemplo). “A gente cruza os interesses dos clientes para tornar os investimentos mais eficientes”, diz Braga.

Investimentos diversificados

Criada pelo P2 na segunda metade de 2012 com investimento de R$ 300 milhões, a Highline tem contratos para fornecer infraestrutura às teles TIM, Vivo e Claro e a serviços de banda larga da Sky e da One. Com os novos serviços para o setor de mídia, a expectativa de Braga é que a Highline Broadcast feche seus primeiros contratos com emissoras nos próximos seis a 12 meses.

Os executivos preferem não falar em perspectivas para o negócio – tudo vai depender, dizem, da receptividade das demais emissoras à proposta. Mas a aposta deles é que o modelo bem-sucedido de compartilhamento das redes de telefonia móvel facilitará a adesão dos grupos de mídia. “O negócio das empresas de rádio e televisão é fazer conteúdo, não gerenciar infraestrutura”, diz André Sales, sócio do Pátria e membro do comitê de gestão do P2 Brasil.

Entre as teles, havia resistência no início, mas hoje cerca de metade das torres de celular foi vendida a empresas especializadas – como Highline, BR Towers, American Tower e outras. No negócio mais recente, anunciado na semana passada, a Oi vendeu um lote de 1.641 equipamentos à SBA Torres Brasil, por R$ 1,172 bilhão. A TIM também colocou à venda torres e a Highline é uma das candidatas a comprar esses ativos.

Com fluxo de receitas e perfil de longo prazo, a gestão de torres de celular atraiu o interesse de fundos de private equity. Além do Pátria, as gestoras Gávea, Providence e GP Investimentos fizeram negócios no setor ao longo dos últimos anos. Alguns deles já entraram em fase de maturação. Neste mês, a GP vendeu 100% da BR Towers à American Tower por R$ 2,18 bilhões.

O P2 Brasil também tem investimentos em empresas de transporte fluvial, armazenamento de grãos, energias renováveis, tratamento de efluentes e suporte ao setor de óleo e gás. O fundo, de US$ 1,15 bilhão, já aplicou mais de 80% de seus recursos e está novamente em fase de captação para fazer novos aportes na área de infraestrutura.

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Talita Moreira, do Valor Econômico