Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Perseguição e ódio

Cada um tem o direito de julgar como bem entender a entrada do zagueiro colombiano Zúñiga no Neymar. Daí a propagar o ódio contra o jogador adversário se revoltando a ponto de vermos ofensas, praguejamentos e xingamentos do mais baixo nível que possa existir ao Zúñiga em seus perfis de redes sociais na internet, atingindo inclusive sua família com ameaças, é reprovável, vergonhoso, repudiável. Ouso imaginar que se o colombiano hoje andasse pelas nossas ruas teria sido amarrado publicamente a barra de ferro e seria linchado por um expressivo número de pessoas que se considerariam na total razão.

Tudo por causa de um lance imprudente de jogo de futebol dos quais cansamos de ver por aí. A consequência que trouxe ao camisa 10 brasileiro foi péssima, é verdade. Mas a dramaticidade toda é porque foi com o Neymar, na Copa do Mundo, no Brasil. Imagine o mesmo episódio tendo como vítima um jogador da seleção da Rússia no mesmo tipo de competição em seu país. Aposto que o julgamento seria outro, mais brando. Sequer geraria muitos comentários. Não ia ter apresentador de TV disseminando ódio enfatizando as palavras violência e agressão ao comentar o ocorrido, como fez Luciano Huck em seu “caldeirão do Neymar” no sábado (5/7). Muito menos haveria comentarista e pitaqueiro de futebol crucificando, como estão fazendo.

Curioso que há mais ou menos dois meses éramos todos humanos, iguais etc. Agora, pessoas agem com um radicalismo absurdo, como se presenciassem literalmente um crime. Na tentativa de justificar ainda recorrem, sem considerar contexto algum, ao lance da maldosa mordida do atacante Suárez e colocam tudo no mesmo bolo para dar o mesmo peso quando até mesmo ex-jogadores de futebol divergem quando perguntados se consideram o lance desta sexta-feira como maldade ou fatalidade. Sequer o técnico Felipão após o jogo crucificou o colombiano. Pelo contrário. Considerou a joelhada intencional, admitindo inclusive que os jogadores brasileiros também dividiram jogadas mais rispidamente do que o normal.

Enfim. Solidarizar-se com Neymar é justo. Agora pregar a feroz hostilidade ao Zúñiga como tenho visto é um tanto quanto assustador, desproporcional. Amanhã, em caso de derrota e consequente eliminação da seleção brasileira da Copa, algum jogador nosso, numa atitude desesperada e impulsiva nos minutos finais da partida pode ser protagonista de um lance parecido com este. Falta uma dose de responsabilidade dos formadores de opinião da mídia ao comentar o episódio. E um punhado de equilíbrio e educação aos torcedores mais exaltados que exteriorizam ódio e racismo.

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Eduardo Matheus Cerqueira da Silva é formado em Publicidade e Propaganda