Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Algumas reflexões sobre a “Copa das copas”

No domingo (13/7), com o tetracampeonato da Alemanha, tivemos o encerramento da 20ª edição da Copa do Mundo. A “Copa das copas” foi marcada pelo bom nível técnico em campo (apesar de algumas seleções medíocres, como a brasileira) e por algumas polêmicas fora das quatro linhas.

No âmbito ideológico, setores politicamente à direita e à esquerda apresentaram posições controversas em relação ao mundial. Em uma equivocada associação entre o possível hexacampeonato e a reeleição de Dilma Rousseff, muitos direitistas, que tradicionalmente prezam por valores nacionalistas, torceram contra a seleção brasileira. Segundo essa linha de pensamento, um grande fracasso na organização da Copa poderia representar o retorno dos partidos de oposição ao poder máximo da nação.

Já a esquerda brasileira esqueceu sua origem internacionalista e adotou uma postura ufanista típica dos regimes mais reacionários. Um partido político que se declara trotskista chegou a apontar em editorial que a seleção brasileira foi vítima de um poderoso complô que envolveu o imperialismo internacional, a Fifa, a grande mídia brasileira e algumas seleções. De acordo com essa posição delirante, esse poderoso complô, e não as péssimas atuações dos jogadores, foi o principal responsável pela vergonhosa derrota do Brasil para a Alemanha.

Torcer por um país desenvolvido

Enquanto a seleção brasileira alcançou resultados positivos, a mídia hegemônica incentivou de todas as maneiras o anódino patriotismo de Copa do Mundo. A programação das principais emissoras e as páginas dos principais jornais foram dedicadas quase exclusivamente à cobertura do mundial. Jogadores como Neymar e David Luiz foram alçados ao status de semideuses. Nesse sentindo, a contusão do camisa 10 do escrete canarinho foi comparada às maiores tragédias de nossa história. Segundo um comentarista da Bandeirantes, Zúñiga (jogador da Colômbia responsável por deixar Neymar fora do Mundial) deveria sair de campo algemado. Nas redes sociais, espaço onde não há limites para a liberdade de expressão, o colombiano sofreu vários insultos racistas de internautas raivosos. Exemplos claros de irracionalidade, típicos de mentes doentias.

Logo após a derrota do Brasil para a Alemanha, a mídia brasileira, em meio ao clima de luto nacional, mudou o discurso. Galvão Bueno, principal divulgador da histeria coletiva que toma conta dos brasileiros a cada quatro anos, asseverou que o futebol é apenas um esporte e há coisas muito mais importantes na vida. Ora, se a maioria de nossos compatriotas leva o futebol tão a sério assim, a ponto de vitórias e derrotas influenciarem seus estados de espírito, uma grande parcela de culpa por isso pode ser creditada à cobertura midiática que superestima o secular esporte bretão, ensejando assim diversas formas de fanatismo. Nada mais hipócrita e oportunista.

Portanto, se há uma lição a ser tirada desse Mundial, ela não está relacionada a esquemas táticos ou questões afins. É preciso que haja uma reflexão sobre o papel da mídia na construção de ilusões e na fabricação de falsos heróis. Nossa verdadeira torcida deve ser por um país realmente desenvolvido. Nessa partida, enfim, todos sairão ganhando.

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Francisco Fernandes Ladeira é professor de Geografia em Barbacena, MG