Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Editoras brasileiras crescem, mas varejo fica estagnado

Mais um vez, a pesquisa “Produção de vendas do mercado editorial brasileiro”, feita desde 2004 pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe-USP), feita sob encomenda da Sindicato dos Editores de Livros (SNEL) e da Câmara Brasileira do Livro (CBL), mostra uma indústria dependente do Estado. Divulgado na manhã desta terça, na sede da CBL, o estudo aponta um crescimento real das editoras de 1,52% em 2013. Mas esse número só aconteceu graças às compras do governo, que subiram 6,14% no mesmo período, já que as vendas em livrarias, internet e outras modalidades de varejo ficaram estagnadas. A pesquisa ouviu 217 editoras, que representam 72% do mercado.

O número de exemplares vendidos no varejo até cresceu (4,13%), mas, como o preço caiu (-4%), o setor ficou estacionado. Para Carlo Carrenho, consultor editorial e fundador do site Publishnews, é a hora de a indústria do livro abrir o olho.

– O que causa espanto é que ao longo dos últimos dez anos o mercado se encontra praticamente estagnado, crescendo muito menos que o PIB. E isso enquanto os indicadores de analfabetismo melhoram, a classe média cresce e temos mais universitários do que nunca – afirma ele. – É hora de, mais do que se preocupar com a Amazon, pensar nessas indústrias concorrentes, como o cinema e os games.

Para a presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), Karine Pansa, a estagnação das vendas no varejo deve-se à conjuntura política e econômica do Brasil.

2014 será atípico

Já a redução nos preços dos livros é explicada pela capacidade de as editoras se ajustarem a um mercado cada vez mais competitivo, produzindo livros mais baratos com mais eficiência.

– Passamos pela crise atrasados em relação ao resto do mundo – diz Karine, ponderando ser prematuro fazer projeções para 2014.

Com a Copa do Mundo, o ano será atípico, com redução de dias úteis. Por outro lado, o mercado espera sentir em 2014 o impacto do vale-cultura. Observa-se, num primeiro momento, que a compra de livros tem sido a preferência dos beneficiados.

O número de exemplares vendidos pelas editoras no varejo cresceu 4,13% em 2013, na comparação com o ano anterior, enquanto o faturamento permaneceu estável. Já para o governo, as editoras venderam 20,41% mais exemplares e obtiveram um aumento real no faturamento de 6,13%, descontada a variação de 5,91% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

A categoria de obras gerais (ficção, não ficção e autoajuda) registrou um crescimento real de faturamento de 2,43%. Já o subsetor com pior desempenho nas vendas no varejo em 2013 foi o de livros didáticos, com uma retração real de 5,25%.

– Essa queda faz refletir. Como se observa aumento de alunos em escolas particulares, pode-se imaginar que estão sendo usados outros materiais na educação. Por outro lado, fico esperançosa com o bom desempenho na venda de obras gerais, que representam uma compra espontânea – avalia Sônia Machado Jardim, presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL).

A Fipe acompanha há dois anos o desempenho dos livros digitais. Em 2013, o crescimento de faturamento das editoras com a venda de e-books foi de 225,13%. A forte expansão ainda tem pouco impacto sobre o mercado editorial, pois o segmento de livros digitais tem participação incipiente no faturamento do setor – R$ 12,8 milhões contra R$ 5,3 bilhões do total da indústria livreira.

– Consideramos que a venda de conteúdo digital representa menos de 1% do faturamento total das editoras. O mercado, por sua vez, considera que esse segmento representa de 1,5% a 2% de seu total. Mas esse não é um número oficial – afirma Solange.

Menos literatura

O número de exemplares vendidos ao Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) do governo federal cresceu 23,35%. Já o número de exemplares vendidos ao Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) teve queda de 34,59% em 2013, na comparação com o ano anterior. Sônia Jardim diz esperar que esses dados não indiquem uma tendência de menor compra de literatura por parte do governo.

– A redução na compra de literatura para escolas me preocupa, e se for uma tendência é lastimável – considera a presidente do SNEL. (Colaborou Maurício Meireles)

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Márcia Abos, do Globo