Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Murdoch retira oferta e CEO da Time Warner esboça um sorriso

Não deu para ter certeza se o executivo-chefe Jeff Bewkes estava sorrindo ao apresentar ontem a investidores os lucros da Time Warner. Ele tinha muitos motivos para estar satisfeito. Os lucros da companhia, que é dona de marcas que vão do canal de TV por assinatura HBO ao estúdio de cinema Warner Brothers, superaram as expectativas. E o que é mais significativo: uma tentativa de ‘takeover’ pela 21st Century Fox de Rupert Murdoch foi retirada – apenas 20 dias depois de vir à tona.

O anúncio surpreendeu observadores de Murdoch de longa data, já que ele raramente desiste sem lutar. A retirada abrupta da proposta foi ainda mais surpreendente, uma vez que ela representava apenas um movimento inicial e uma longa batalha parecia estar em perspectiva. “Ele interpretou muito mal a situação”, diz um observador das duas companhias. “Ele baseou sua abordagem na ideia de que Jeff Bewkes estaria disposto a vender e faria isso sob quaisquer condições.”

Bewkes jamais disse que queria vender a Time Warner. Mas deixou a companhia mais enxuta – e viável a potenciais compradores – ao desmembrar a AOL, a Time Warner Cable e, mais recentemente, sua divisão editorial Time Inc.

As vendas tornaram a Time Warner uma empresa mais digerível, e uma possibilidade tentadora para Murdoch. Ele há muito cobiçava o canal de TV HBO da Time Warner e o acervo de direitos de transmissão de eventos esportivos, que teriam ajudado a Fox a se tornar uma concorrente viável à bem-sucedida rede ESPN da Walt Disney.

Bewkes e Murdoch frequentam os mesmos círculos, mas não são amigos e raramente se falam, segundo afirmam pessoas que conhecem os dois.

Murdoch pode ter subestimado a disposição de Bewkes de aliviar sua mão de ferro sobre um dos ativos mais cobiçados do mundo da mídia. O CEO da Fox também não estava disposto a partir para uma oferta hostil, pois sempre evitou esta abordagem em uma carreira no mundo dos negócios que já dura cinco décadas. Uma queda no preço da ação da Fox foi outro grande fator na decisão de desistir da proposta, diz a companhia.

“Rupert temia correr um risco grande demais para os acionistas da Fox”, disseram fontes. A ação da Fox chegou a subir 5% por volta do meio-dia de ontem, mas permanecia cerca de 12% abaixo do patamar registrado no começo de junho, quando a oferta foi feita.

“Estratégia certa”

Murdoch tem um histórico aventureiro de realização de negócios. Em 2007 ele mirou a Dow Jones, o grupo de informações jornalísticas e de negócios, pagando por ela US$ 5,7 bilhões em meio a duras críticas – e no momento em que a mídia impressa se encontrava em franco declínio. A News Corp, que então abrigava a Fox e os ativos de mídia impressa de Murdoch, promoveu uma baixa contábil de US$ 2,8 bilhões da controladora do “The Wall Street Journal”.

Com a Time Warner, ele vem sendo mais cauteloso. “Pode ser a influência das pessoas que o cercam”, diz Michael Nathanson, analista da MoffettNathanson. “Agora ele tem Chase Carey [diretor operacional da Fox] e James [seu filho]. O elenco de personagens que o cerca mudou… e isso representa muita coisa.”

No lugar de uma batalha de ‘takeover’ pela Time Warner, a Fox autorizou um programa de recompra de ações de US$ 6 bilhões. “A decisão de recomprar ações deve tê-lo deixado maluco”, diz uma fonte que conhece o diretor-presidente da Fox há anos. “Não há nada que ele goste mais do que comprar empresas, e nada que ele goste menos do que recomprar ações.” Pessoas próximas de Fox disseram que o programa de recompra foi um sinal claro de que a companhia não voltaria a fazer uma nova proposta pela Time Warner.

Mas outros observadores afirmam que a News Corp tem poder de fogo suficiente para concluir um programa de recompra de ações e comprar a Time Warner. “Eles fizeram uma recompra de ações de US$ 4 bilhões no ano passado”, lembra Richard Greenfield, analista da BTIG Research. “Eles tinham US$ 6 bilhões em caixa e US$ 7 bilhões estão vindo [da venda da Sky Deutschland e da Sky Italia para a British Sky Broadcasting]. A recompra de US$ 6 bilhões beneficia os acionistas, mas não tira a flexibilidade da companhia.”

A retirada da oferta pode ser tática, diz Greenfield. “Isso coloca toda a pressão sobre Bewkes. Esta é a próxima movimentação estratégica… em vez de a Fox surgir com uma proposta boba que force a Time Warner a provar que pode aumentar o preço de sua ação.”

Ao rejeitar a oferta da Fox, Bewkes disse que seus planos para melhorar o desempenho da Time Warner elevarão os preços das ações muito mais do que a oferta da Fox o faria. Com os resultados da Time Warner no segundo trimestre, Bewkes venceu o desafio inicial de Murdoch. Mas depois que as ações da Time Warner caíram 10% depois da retirada da proposta, os investidores estão bem cientes de que perderam uma sorte inesperada.

Bewkes disse ontem que a Time Warner tem “a estratégia certa”, ao anunciar lucros que superaram as expectativas. O CEO da Time Warner, um oponente convicto à oferta de Murdoch, disse que a companhia atingiu “os maiores retornos totais para os acionistas entre qualquer outra empresa de nossa área nos últimos seis anos ou mais”.

Ativos desmembrados

O lucros da Time Warner foram beneficiados pelos ganhos do canal HBO e o lançamento de “The Lego Movie”. A companhia se deu bem em várias frentes, com sucessos como “True Detective” na HBO, e “The Last Ship” em sua rede TNT.

O lucro líquido subiu de US$ 771 milhões para US$ 850 milhões (um lucro por ação de US$ 0,98, que ficou US$ 0,14 acima da expectativa média do mercado). A receita do segundo trimestre cresceu de US$ 6,6 bilhões para US$ 6,8 bilhões. A transmissão do torneio de basquete universitário dos Estados Unidos atraiu uma demanda maior dos anunciantes, enquanto a série “The Big Bang Theory”, que é produzida pelo estúdio Warner Brothers da Time Warner, foi a comédia de maior audiência na TV a cabo bancada por anúncios.

Bewkes mencionou ontem [quarta, 6/8] o desmembramento da divisão editorial de revistas Time Inc, um dos vários ativos desmembrados por ele, o que tornou a Time Warner mais enxuta a mais atraente para potenciais compradores.

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Matthew Garrahan, do Financial Times, em Nova York