Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornalismo televisivo tenta entender o que quer o público jovem

         

A “fuga” dos jovens da mídia tradicional foi um dos temas mais debatidos durante a edição de 2014 do Festival Internacional de Televisão de Edimburgo, na Escócia, realizado de 21 a 23/8. Cada vez mais, os jovens buscam a internet e as mídias sociais para se informar, em vez de mirar-se na TV – o que vem assustando executivos das emissoras, que tentam compreender e encontrar soluções para a tendência.

De acordo com uma pesquisa do Ofcom, órgão independente que regula a indústria de telecomunicações no Reino Unido, 75% dos adultos britânicos consomem notícias pela TV e assistem a uma média de 115 horas de cobertura por ano; já os jovens de 16 a 24 anos assistem em média a apenas 27 horas de TV anualmente.

Em um painel sobre o tema, na sexta-feira [22/8], o site Vice News – que conta com uma audiência de 130 milhões de visitantes por mês – foi apontado com um exemplo na captação do público mais jovem.

Kevin Sutcliffe, chefe de reportagem do canal, justificou tal sucesso dizendo que o Vice não pode ser visto como parte da mídia tradicional. De acordo com ele, o Vice se encontra num espaço diferente, é uma resposta à mídia tradicional e ao “jeito antiquado de se fazer notícia”. Sutcliffe disse ainda que o fato de os jornalistas acompanharem a faixa etária de seu público cria uma espécie de identificação entre eles.

Já Mary Hockaday, diretora de conteúdo da BBC, discordou da última colocação de Sutcliffe e disse acreditar na existência de talentos de todas as idades nas mídias; ela citou, então, uma sessão de perguntas e respostas exibida no Reddit com o correspondente da BBC John Simpson, de 70 anos, que foi sucesso entre o público mais jovem.

Geoff Hill, editor da ITV News, falou sobre os problemas de confiança e responsabilidade que chegam com novatos como o Vice News, defendendo que repórteres e marcas devem passar credibilidade. E foi específico em dizer que ninguém deseja ver um jovem falando gírias e usando palavreado chulo ao transmitir uma notícia. Hill mencionou um vídeo sobre o Estado Islâmico transmitido pelo Vice que trazia imagens gráficas de cabeças decepadas sem inserir qualquer mensagem de alerta aos espectadores (o vídeo em questão teve mais de 2,5 milhões de visualizações).

Mary disse que a BBC nunca teria exibido a reportagem do mesmo modo que o Vice, muito embora tenha elogiado a capacidade do repórter de ter acesso a tal material. Já Sutcliffe defendeu a postura do Vice e disse que o canal está quebrando a rigidez histórica do formato de notícias televisivas, o qual alegou estar fora de sintonia com o público jovem, que vive num novo universo onde tudo funciona sob demanda.

Questão de transição e amadurecimento

Dorothy Byrne, chefe de notícias e atualidades do Channel 4, afirmou que as grandes emissoras não estão tão atrasadas na corrida digital. Para ela, esta divisão entre o Vice e outros canais é pouco realista.

Geoff Hill disse que é tudo uma questão de transição. “Conforme a geração digital envelhece, é mais provável que ela migre para os estilos de reportagem e temáticas mais tradicionais. Aos 30 ou 40 anos, você tem uma participação na sociedade”, afirmou. “Nós não estamos falando [nesse painel] sobre taxas de juros, pensões e cuidados com idosos. Estas são coisas que não significam muito quando você tem 18 anos, mas significam muito quando você se torna adulto”.

O Festival Internacional de Televisão de Edimburgo, realizado anualmente, foi criado em 1976 com o objetivo de debater o futuro da televisão e da radiodifusão.