Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Tragicomédia eleitoral

Servidores públicos devotados, humildes, que valorizam suas famílias, têm amor ao trabalho e ao próximo e preocupam-se com o progresso e a necessidade de um mundo melhor. Corta.

Foi com personagens deste porte que os candidatos ao governo do Rio começaram a maratona de propaganda eleitoral obrigatória na TV.

Nem pareciam os mesmos que, na noite anterior, estavam no primeiro debate eleitoral, organizado pela Band. Na arena do estúdio, pareciam gladiadores dispostos a ataques raramente elegantes, ironias poucas vezes finas e afirmações nem sempre verdadeiras. Dispostos a usar quaisquer armas, com exceção das ideias.

Foi como se, de um dia para o outro, os candidatos tivessem trocado de pele. São cordeiros ou lobos?

O governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) tornou-se o alvo preferencial, especialmente do ex-governador Garotinho (PR) e do senador Lindbergh Farias (PT). O também senador Crivella (PRB) evitava polêmica e preferia elencar as muitas vidas que teve (militar, engenheiro, taxista, missionário na África, ministro).

Tudo é possível

Com retórica afiada, Garotinho provocava. Lindbergh repetia como mantras: “Eu aprendi com Lula”; e “quero derrubar o muro que divide o Rio dos ricos dos mais pobres”. Pezão gaguejava e deixava passar os ataques diretos para manter a imagem de propositivo. Na TV, vai bater na tecla: “Só não mudo o meu jeito”.

O pouco conhecido Tarcísio Motta, articulado professor do PSOL, criticava todos (“São quatro Cabrais!”, referindo-se ao ex-governador Sérgio Cabral). Tinha a liberdade dos que têm chance mínima de vencer. Não é nem citado pelos eleitores. Numa eleição embolada –Garotinho tem 25%; Crivella, 18%; Pezão, 16%; e Lindbergh, 12%, segundo o Datafolha–, qualquer resultado é possível.

Prepare-se. Entre o pacato homem de família e o ácido candidato, vai se erguendo a tragicomédia eleitoral.

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Paula Cesarino Costa, da Folha de S. Paulo