Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Mais uma ameaça do marketing?

No debate do dia 26 de agosto na Band, a candidata Marina Silva mostrou que está com o marketing eleitoral muito bem afinado. Soube usar o discurso emocional e conciliador nas doses certas. A promessa de romper com a polaridade PT-PSDB e unir o país em uma “nova” política tem muita força, em termos de marketing. Em termos políticos, é inviável, pelo menos para Marina Silva e o PSB. Mas a candidata mostrou que vai dar trabalho nas urnas. Ela foi a única concorrente capaz de emocionar no primeiro debate. Tocou levemente na morte de Campos, acontecimento chave nessa eleição e que ajuda a dar um tom emotivo e messiânico à sua candidatura. Em termos de marketing (somente em termos de marketing), Marina foi a vitoriosa no debate. E isso é preocupante, mas não é tudo.

O contexto de sensibilidade após a tragédia de Campos e o marketing eleitoral bastante afinado não são os únicos trunfos de Marina e talvez nem sejam os maiores. A candidata começa a cair nas graças da grande mídia, que finalmente parece ter encontrado a candidatura com que sonhava. Durante o debate, as fanpages no Facebook dos grandes veículos de comunicação (Globo, Exame, Folha de S.Paulo e outros) já davam sinais de sua simpatia à candidatura da terceira via, destacando a participação da candidata no debate e apontando Marina como uma pedra no sapato de PT e PSDB. Como demonstram os números da nova pesquisa do Ibope, Aécio terá que suar muito para conseguir passar além do primeiro turno. Dilma, por sua vez, terá uma disputa igualmente dura no segundo turno, caso enfrente Marina Silva. Afinal, nessa circunstância, a tendência é que os votos do PSDB migrem em peso para o PSB.

As alianças fisiológicas

Mas quem é Marina Silva? A história política brasileira talvez nos ajude a responder. Marina tem um quê de Jânio Quadros e de Fernando Collor: não tem sustentação partidária, representa setores conservadores e, ao mesmo tempo, consegue se passar por progressista e renovadora para boa parte da população. Como Jânio, não é uma boa articuladora, não serve para mediar conflitos porque está presa a uma espécie de moralismo populista que cheira à naftalina udenista e que conduz a candidata ao isolamento e à inoperância política. Como Collor, está conseguindo, ainda mais depois da morte de Campos, construir sua imagem colada ao “novo”, posando de candidata outsider, acima de partidos e capaz de mudar os rumos das instituições políticas brasileiras, quando na verdade, se eleita, terá mais dificuldades que Dilma ou Aécio para construir governabilidade.

Dos três principais candidatos, Marina é a que mais precisará recorrer às alianças fisiológicas para governar, caso vença. Mesmo assim, conduz sua campanha como se pudesse expurgar tais alianças da democracia brasileira… Essa é a candidata Marina Quadros de Melo… Se ela vencer as eleições de 2014 (o que ainda acho muito improvável), será realmente uma surpresa vê-la concluir um mandato de quatro anos.

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Fernando Chaves é jornalista