Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Como a mulher aparece fútil e limitada

Revistas e suplementos jornalísticos voltados para o público feminino costumam ter como pauta dietas, moda, cabelo, maquiagem e sexo – geralmente, abordando temas voltados a “como seduzir os homens”, não para o prazer feminino. Algumas vezes, há matérias sobre mulheres de negócios, bem-sucedidas e com alto poder aquisitivo. A mulher que aparece como alguém de prestígio tem dinheiro, dá conta de ficar em forma, cuidar do marido e filhos e ter uma carreira de sucesso.

Mulheres intelectuais, que não desejam necessariamente constituir uma família nos moldes tradicionais, que escolheram sua profissão ou trabalho pelo prazer, e não pelo retorno financeiro, não são modelos interessantes para a mídia. Se não for heterossexual e cristã é provável que nunca se veja representada pela mídia hegemônica. Os veículos fazem com que só seja possível se reconhecer nas mídias quando está naquele padrão. Dessa maneira, ou a mulher se adequa ao que lhe é proposto ou ela sempre estará em uma posição social marginalizada, sem voz. Além disso, o senso comum diz que “feministas são chatas”, “feministas são frescas” e “feminismo é coisa do passado”. Quem quer ser chata, fresca ou ultrapassada? Dessa maneira, as mulheres são manipuladas a não lutarem por seus direitos e desencorajarem as que as cercam de fazê-lo.

A pesquisa divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no início de 2014, com números errados sobre a afirmação “mulheres que mostram o corpo merecem ser atacadas”, refletiu nas redes sociais e sites o que as pessoas pensavam sobre o assunto. A informação difundida incialmente era de que a maioria dos entrevistados (65,1%) concordava com a frase e depois foi esclarecido que os dados ficaram errados pela troca dos gráficos relativos a outra pergunta. O resultado era que 26% das pessoas concordam (12,8% parcialmente e 13,3% concordam totalmente).

No entanto, mesmo com esses números menores, era comum ver argumentos nos comentários das matérias como “Não se deixa a porta de casa aberta, para evitar que seja assaltada, então a mulher também não deve sair de roupa curta para não ser estuprada”. Essa opinião, infelizmente comum, trata o ser humano como se fosse um objeto que simplesmente pode ser levado. Outro problema comum é a maioria das campanhas de conscientização serem voltadas para as mulheres, não para os homens, e trazerem a mensagem de “não faça algo que poderia levá-la a ser violentada”.

Uma nova mídia é possível

A revista “Nova”e o caderno “Ela”, do O Globo, evidenciam os aspectos de como uma mulher deve ser. Imagina se uma mulher de sucesso não vai querer estar de olho em todas as tendências, mesmo que não tenham nada a ver com ela? Cabe a reflexão de que o “brega” nada mais é do que o sujeito que rompe com os padrões sociais vigentes. No entanto, para essas indagações chegarem às pessoas com mais força falta uma mídia que evoque essas ideias, pois o contrário – de que é preciso desesperadamente estar na moda – é propagado o tempo todo.

É evidente que os leitores têm suas posições, seu senso crítico e podem refletir sobre o que vão ou não se apropriar dos discursos midiáticos. O problema é que só estão expostos a um ponto de vista, o que suscita o debate da democratização dos meios e da pluralidade de vozes.

É preciso que as mídias sejam repensadas, os cadernos voltados às mulheres as tratem como indivíduos com opiniões e pensamentos diferentes uns dos outros. Uma nova mídia é possível, mas é preciso que antes se mude o foco do que as linhas editorais querem passar. As mulheres que não se enquadram nos perfis recorrentes existem, são consumidoras de informação e querem se ver representadas na mídia. Até quando o direito da diversidade será negado?

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Raissa Vidal é estudante de Comunicação Social com habilitação em jornalismo