Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Painel em Columbia debate situação de jornalistas sequestrados

A divulgação dos vídeos com os assassinatos dos jornalistas americanos James Foley e Steven Sotloff inflamou o debate sobre como lidar com – e como cobrir – o sequestro de profissionais de imprensa em zonas de conflito. Na terça-feira [9/9], a Escola de Jornalismo da Universidade Columbia, em Nova York, organizou um painel intitulado “After Foley” (Depois de Foley) para discutir os riscos corridos por estes profissionais e os cuidados que a imprensa deve ter quando eles se tornam a própria (trágica) notícia.

Joel Simon, diretor do Comitê para a Proteção dos Jornalistas, declarou que o melhor curso de ação seria relatar as notícias de sequestro de jornalistas de forma não emocional, omitindo, por exemplo, as exigências dos sequestradores e indicando em linguagem clara a ocorrência de retenção de informações a pedido da família do sequestrado ou mesmo de editores. Ele crê que, se a imprensa tirar a atenção dos sequestradores, conseguirá reduzir a pressão pública e a visibilidade que acabam por complicar as negociações de reféns.

David Rohde, repórter investigativo da agência Reuters – que foi sequestrado no Afeganistão em 2008, quando era correspondente do New York Times, e fugiu após sete meses de cativeiro – discordou do ponto de vista de Simon. Ele crê que houve um esforço bem intencionado para solucionar o caso de Foley e de Sotloff, mas que infelizmente não deu certo.

Inicialmente, a imprensa ficou em silêncio quando Sotloff foi sequestrado, em agosto de 2013; já no caso de Foley, tanto a família quanto o contratante do jornalista, a agência GlobalPost, fizeram lobby para libertá-lo logo após seu sequestro, em novembro de 2012. Ambos os casos receberam tratamento diferente, mas tiveram o mesmo desfecho, quando os repórteres foram decapitados pelo grupo extremista ISIS diante de uma câmera.

Mais apoio aos jornalistas

Phil Balboni, presidente-executivo da GlobalPost, que ajudou a direcionar a busca por Foley (e gastou milhares de dólares no processo), rejeitou a ideia de que uma campanha proativa da imprensa teria alterado o destino de Foley ou de Sotloff.

Já a correspondente do New York Times Rukmini Callimachi acredita que o silêncio da imprensa cria potencial para facilitar as negociações entre os sequestradores e os países de origem dos reféns – quando há espaço para se negociar. Ela criticou a postura do governo americano, que se recusa a negociar com terroristas, e citou a postura de governos europeus, que entre 2008 e 2014 chegaram a gastar mais de US$ 125 milhões em resgates à Al-Qaeda e a seus afiliados diretos.

Em geral, os palestrantes ao menos concordaram que os jornalistas necessitam de mais apoio em sua formação, segurança e infraestrutura nas coberturas de guerra, pois uma parcela cada vez maior destes profissionais é representada por freelancers mal remunerados. A grande questão é que tal apoio sai caro. “E se os jornalistas são vítimas de sequestro”, disse Rohde, “a única solução comprovada também se revela um inconveniente: dinheiro vivo, simplesmente”.